Em 'Tempo de Amar', Marcello Melo Jr. dá vida a Edgar, um revolucionário, que tem um romance com Olímpia (Sabrina Petraglia). Na data em que se comemora o Dia da Consciência Negra, o ator destaca a importância da luta contra o preconceito e a mensagem que a história de seu personagem pretendem passar. "A mensagem é a do amor, de brigar por quem se ama", diz.
Na novela das seis, o casal agora está brigado. Mas o ator acredita na superação dos obstáculos. "Eles vão viver situações delicadas que podem colocar o amor à prova. Mas vão mostrar que o sentimento é muito maior e tem força para ficar de pé", adianta.
Apesar de reconhecer ainda a existência de discriminação ao redor de muitas relações interraciais, o ator afirma que não viveu nada parecido. "Nunca vivi um preconceito desse tipo por conta de ser negro. Minha ex-namorada era branca, e isso nunca pesou", revela Marcello, que está solteiro no momento. No entanto, ele reflete sobre a possibilidade de lidar com a situação. "Vejo o preconceito como ignorância, falta de educação. E se a pessoa se torna agressiva verbalmente, aí temos que tomar partido. Porque sai do limite das coisas. Mas temos que ter o discernimento de saber o momento de ignorarmos e de nos colocarmos. É para lidar com sabedoria", conclui.
ROMPENDO BARREIRAS
Vivendo na ficção um progressista atuante no Grêmio Cultural em 1929, o artista acredita que o mundo ainda precisa evoluir. "Hoje, temos o respeito adquirido através das leis. Por luta, por dedicação, por empenho, por mostrarmos qualidade no que fazemos. Temos bons exemplos como Lázaro (Ramos), Nego do Borel, um rapaz negro que conquistou o Brasil. Podemos fazer com que a nossa arte quebre as barreiras do preconceito". E completa: "Existe muito a fazer ainda. Acho o Brasil um país muito preconceituoso, racista não assumido. Mas, pelo menos, hoje os negros têm voz mais ativa e segura, mais confiança em se colocar. Vamos trabalhando para extinguir isso".
INQUIETUDE
Ator, cantor, compositor e músico, ele se identifica com o comportamento do personagem da novela das seis. "Me sinto parecido com o Edgar na inquietude das coisas. A minha maneira de expressar na arte, na música, no teatro, no cinema, na TV, é uma maneira que eu encontro de falar com um número maior de pessoas", observa. "E quero que as pessoas possam também ter esperança. Venho de uma comunidade (Vidigal), de uma classe social baixa, de um lugar onde as oportunidades são poucas, mas que quando surgem, são agarradas com toda força. Edgar quer dar voz, luta por isso, pela igualdade, pelo respeito aos negros. E eu, de certa forma, me sinto nessa mesma missão. Toda vez que encontro uma pessoa na rua, que elogia o trabalho, isso para mim é fazer a revolução de maneira mais abrangente e positiva".
DO 'NÓS' PARA O BRASIL
Marcello se interessou pelo universo artístico aos 7 anos, quando foi assistir a uma peça no grupo Nós do Morro, no Vidigal. "Era uma peça do meu pai, que também é ator. Foi meu primeiro contato com o teatro", lembra. "Continuo ativo no Nós. Dou aulas, atuo, canto, produzo, sempre que é possível".
O ator, que completou 30 anos ontem, conta que o pai tem total influência na sua escolha pela arte. "Ele sempre foi artista, músico, poeta, compositor. Isso me inspirou. Acabei me descobrindo no mesmo caminho".
Ele gosta de experimentar. Foi integrante do recente reality musical 'Popstar' e também fez parte da banda Melanina Carioca. "Nunca me classifiquei. Sou artista. Sempre me empenhei em fazer o melhor em tudo. Faço tudo desde cedo, sem preconceito com essa diversidade", afirma. "Essa inquietação acompanha o artista. Respiramos isso".