Eugenio Silva de Oliveira treina cães para diversas situações, inclusive salvar policiais
 - Luiz Ackermann / Agencia O Dia
Eugenio Silva de Oliveira treina cães para diversas situações, inclusive salvar policiais Luiz Ackermann / Agencia O Dia
Por MARIA INEZ MAGALHÃES

O ano ainda não terminou, mas o Batalhão de Ações com Cães (BAC), da Polícia Militar, já bateu o recorde de apreensões de drogas e armas incluindo fuzis da unidade em relação ao ano passado todo. De janeiro até outubro foram apreendidas pelo BAC 9,631 toneladas de drogas contra 9,023 toneladas em 2016. Eles também tiraram das mãos dos bandidos, até semana passada, 106 armas; desse total, 27 são fuzis. No ano passado todo foram 81, sendo 17 fuzis. E a tática de combate ao crime no Rio, o comandante da unidade especial da PM, tenente-coronel Rubens Peixoto, revela com orgulho. "Ração, treinamento e amor", diz.

As referências são à tropa canina que compõe o BAC, criado em 1955, e que atua com os 228 PMs do batalhão. São 79 cachorros, dez deles ainda filhotes em preparação para policiamento. Os já ativos seguem os horários de atuação dos PMs: se trabalham um dia, param três. Se feridos em confrontos, ficam de licença. "Aqui, somos uma coisa só. Quando falamos na tropa, os cães estão incluídos. Para trabalhar no BAC é preciso gostar de cachorros", explica o oficial. Um desenho na parede na subida da escada para a sede da unidade ilustra a explicação: há uma pintura de um PM onde metade do rosto dele é a cara de um cão.

Das quase dez toneladas de drogas apreendidas este ano, quatro foram em três ações a partir de junho: duas na Nova Holanda, Maré; e outra no Pavão-Pavãozinho, Ipanema. Já a maioria dos fuzis foi encontrada na Zona da Leopoldina, onde estão o Complexo do Alemão, o Complexo da Penha e outras favelas. "O BAC é sempre acionado. Temos muitas demandas na corporação", conta Peixoto.

TREINAMENTO

Mas os cães não são treinados apenas para farejar armas, drogas explosivos. Estão preparados para atuar na localização e resgate de pessoas perdidas, tomada de reféns, captura de bandidos escondidos, busca de soterrados, restos mortais e ossadas humanas, manifestações e até em policiamento em jogos. As habilidades deles não param por aí.

"Estão prontos para atacar bandido armado até com fuzil para salvar o policial em situação-limite, mesmo que isso custe a vida dele. Mas, graças a Deus, isso nunca aconteceu", comemora o subtenente e adestrador Eugenio Silva de Oliveira, há 29 anos na corporação, sendo 27 no BAC. A unidade faz parte do Comando de Operações Especiais da PM, composta pelos batalhões de Operações Especiais (Bope) e Choque.

Cacos de vidro e pregos para ferir patas
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Se por um lado o BAC comemora o fato de nenhum cão ter morrido em operação, o mesmo não se pode dizer dos feridos. Sim, eles também são alvos dos criminosos. As ameaças chegam por radiotransmissores, mas os bandidos criaram uma nova tática para acertá-los: passaram a jogar cacos de vidro e pregos no chão. Os objetos cortam as patas dos animais, que ficam fora do combate entre 15 e 20 dias.
Para protegê-los, a PM comprou sapatinhos emborrachados. O treino com o equipamento de segurança começa mês quem vem. "Eles dão muito prejuízo ao tráfico. As apreensões provam isso", explica o coronel Peixoto.
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Os animais são atendidos na veterinária do BAC, comandada pelo major Luís Renato Veríssimo de Souza. O batalhão fica no 16º BPM (Olaria). Lá, tem toda estrutura para atender os peludos, até centro cirúrgico. A preocupação com a saúde dos cães é tanta que os veterinários cuidam até dos gatos que entram no BAC. "Eles comem ratos, que são nocivos aos cachorros", explica o comandante.
O BAC ficou mais conhecido depois da novela 'A Força do Querer', de Glória Perez, onde Paola Oliveira interpretou Jeiza, comandante da unidade na trama. Três cães do BAC se revezavam nas gravações.
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CAPACITAÇÃO
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Para alcançar bons resultados, o trabalho no BAC é constante e intenso para os PMs e os cães. A começar pelos cursos. São três, e o de Adestradores de Cães para Emprego Policial (Cacep) está no topo da lista. "Poucos concluem porque é muito pesado", conta o coronel Peixoto. "Quem tem o Cacep está preparado para qualquer missão", orgulha-se ele, que tem o emblema do curso no peito pregado à farda.
E os cães acompanham os PMs nessa capacitação. O treinamento deles inclui até rapel. A técnica facilita o emprego do animal em locais de difícil acesso. E eles aprendem a obedecer até por gestos. Mas, se necessário, entendem também aos oito comandos de voz, alguns em inglês, espanhol e até alemão.
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Para fazer parte do BAC, o animal tem que ter saúde de ferro e pedigree e ser de raças com aptidões para o policiamento, como labrador, rottweiler e pastores. Os do BAC nascem no batalhão, da cruza dos cães que já são da tropa. A partir dos 45 dias começam a ter as habilidades testadas, e aos seis meses iniciam o treinamento, que dura até um ano e meio.
A dieta é rigorosa: duas refeições diárias com ração superpremium e sem petiscos. "Amor a cada comando obedecido é a compensação", conta o coronel Peixoto. E eles são recolhidos após a segunda refeição. Os adultos ficam em baias separadas e os filhotes, juntos. "Crianças não gostam de ficar sozinhas", brinca ele.
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