Amanhã, a esperança há de surpreender mais uma vez. É sempre assim. Depois do que se vive hoje, há um amanhã.
Um certo João explicou sobre ser uma voz que clamava no deserto.
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Naquele tempo. Nos tempos de hoje. O deserto das ausências. O egoísmo nos toma de assalto e fica. E é sobre nós e apenas sobre nós que nos debruçamos. O outro é apenas um dispensável a mais. O deserto das presenças erráticas. O outro me interessa quando interessa. Nada de amizades, mas de adulações e de descartes. Nada de amores, mas de expectativas. Nada de liberdade, mas de trancafiamentos.
O deserto de João se repete hoje. Mas, amanhã, é Natal. E o Menino vem novamente. Sem pretensões de imediatismos. A manjedoura é o coração humano. Metáfora dos sentimentos que nos acolhem. Pulsante coração. Capaz de irrigar desertos e afinar vozes para tempos mais plenos.
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Sim, na plenitude dos tempos, nasceu o Menino. Assim está escrito nas Escrituras Sagradas. No tempo certo, para que os homens pudessem perceber os encontros e celebrar a permanência. O Menino nasceu e foi esperançar na carpintaria de José. Foi crescendo e fazendo crescer. Foi amando e ensinando a amar. Foi olhando e desconsertando os que se achavam consertados mesmo vivendo no deserto. Os pretensiosos sempre tiveram dificuldade de compreender a simplicidade do Menino.
O Natal nos traz todos esses ingredientes. A fartura das mesas deveria vir depois. É de fartura de afetos que carecemos. De olhares que impeçam a invisibilidade, de ouvidos que espantem a surdez. Há gritos implorando por justiça, há gritos pedindo apenas atenção.
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Desatentos, comemos e bebemos sem economia. E cobramos presentes. Presenças reais ficam para os que aprenderam a compreender, a sentir, a ver a estrela que continua a nos guiar para que saiamos do deserto.
Amanhã é Natal. Há os que viverão o passado, lamuriosos dos que se foram, olhando os álbuns de fotografias e percebendo os que faltam. Há os que se embriagarão, aproveitando os festejos. Há os que ficarão sem comer, porque não terão o que comer, porque é assim o mundo dos desertos. Mas por que foi mesmo que o Menino veio? Era preciso uma ponte que nos permitisse chegar à outra margem. Onde há água pura, onde há rodas de conversa, onde há crianças que brincam sem medo, onde há mulheres e homens construindo alicerces comuns, comunhão. No outro lado, a felicidade é permanência, e não visitante apressada. No outro lado, o riso não é nervoso nem forçado. No outro lado, a primavera reina absoluta, explicando que o nascimento de uma flor não é obra do acaso.
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Todos são convidados, mesmo os que não acreditam muito. Há uma exigência apenas. O Menino não arromba corações. Chega com leveza naquele que quer experimentar o seu nascimento. Para isso, é preciso de limpeza. E de abertura. Corações abertos pulsam um mundo melhor. E é isso que quer o Menino.
Brincar de eternidade nos momentos que eternizamos enquanto estamos por aqui. Momentos simples. Limpos, porém. As sujeiras nos impedem de receber o Menino e nos impedem de ver a outra margem.
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Amanhã, a esperança há de surpreender mais uma vez.