Rio - Psicopedagoga e advogada engajada nas causas das pessoas com deficiência, Lu Rufino, 42, será a primeira porta-bandeira cadeirante a representar o samba fora do Brasil. É ela quem ostenta desde o ano passado, na Sapucaí, o pavilhão da Embaixadores da Alegria, agremiação pioneira voltada para a inclusão do segmento que há 10 anos abre os desfiles no Sábado das Campeãs. Lu e outros integrantes embarcam amanhã para a Ilha de Wight, na Costa Sul da Inglaterra, com a missão de ensinar o gingado carioca a um grupo carnavalesco local.
A Embaixadores da Alegria foi convidada para um intercâmbio cultural na ONG The New Carnival Company. A organização promove Carnaval no meio do ano na ilha e está formando sua primeira escola de samba, que terá pessoas com deficiência. O mestre-sala Lincoln Pereira, a rainha de bateria Fernanda Honorato (a primeira repórter do país com Síndrome de Down) e o carnavalesco Levi Cintra, membros da Embaixadores, também participarão do encontro internacional.
"Para mim fica um sentimento de igualdade, porque todas as porta-bandeiras saem do país representando o samba. Não quero ser olhada com sentimento de humanismo, mas de igualdade. Somos todas iguais. A diferença de mim para as outras é que eu sambo em uma cadeira de rodas", disse Lu, agradecida pelo desafio. Ela perdeu o movimento das pernas aos 8 anos de idade, vítima de poliomielite.
O mestre-sala e coreógrafo Lincoln Pereira, 54, faz parte da Embaixadores desde sua fundação. Durante a viagem, de uma semana, ele será responsável por ensaiar a rainha de bateria, um casal de mestre-sala e porta-bandeira e a comissão de frente da escola inglesa em formação, entre eles pessoas com deficiência. Ainda faz parte do roteiro da visita um workshop aberto à comunidade.
"Queria deixar registrado que a alegria e o alto astral são de graça! Cabe a nós, pessoas consideradas 'normais', abrir espaço para que essas pessoas não favorecidas fisicamente possam ter momentos de alegria e incluí-los nessa festa em que a beleza e o corpo perfeito são tão enaltecidos", declarou Lincoln, que não tem deficiência física.
Em seu desfile deste ano, a Embaixadores levará à Sapucaí o enredo 'Super-Heróis', abordando as superações de pessoas com deficiência. "O tema destaca a superação de mães guerreiras que têm seus filhos eternamente deficientes e leva à reflexão sobre a fragilidade que qualquer ser humano tem de se tornar deficiente físico de repente", explicou Lincoln.