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Por Gustavo Bastos Publicitário

Todo ano é a mesma coisa, muita gente nas festas e nas redes reclamando, inconformados, por conta do politicamente correto.

"O mundo está chato", "a gente não pode fazer piada com nada hoje em dia", são sempre as mesmas frases sobre o tempo em que vivemos.

Mas eu pergunto, seriam essas pessoas inconformados com a mudança que vivemos na sociedade, dando voz a todos (incluindo aí quem não sabe usar a liberdade) ou seriam elas, ao contrário, gente conformada com aquilo com o qual sempre estiveram acostumados?

Reclamar do que se convencionou a chamar de politicamente correto é o caminho mais fácil, afinal, qualquer mudança assusta. Mesmo nos grupos de pessoas que são vítimas de preconceito, de abuso, de bullying, aparecem os que são inconformados com os novos tempos.

Eu particularmente acho que qualquer mudança na sociedade, seja para frente ou para trás - e vivemos muitas mudanças em marcha à ré neste momento - deve ser absorvida como um fato da vida, nem bom nem ruim, mas natural e inevitável.

A sociedade finalmente acordou para a importância da inclusão, de sermos todos vistos, de acabar com a invisibilidade de alguns grupos, da união, do combate ao abuso contra as mulheres e as minorias.

Veja como Hollywood de um dia pro outro expulsou vários de seus ícones da frente das câmeras e dos bastidores também. Não é que o abuso contra as mulheres - o popularmente chamado teste do sofá - seja algo novo ou que ninguém sabia (tanto sabia que tem até nome popular), mas de repente o assunto entrou na pauta pela coragem de algumas mulheres e a sociedade viu rapidamente que era a hora de comprar essa briga.

Neste momento, alguns vão dizer que existe um outro lado, um lado ruim, da censura às artes, por exemplo. Na minha visão, melhor combater esta visão torta do que condenar toda a sociedade a viver como nos velhos e incorretos tempos.

Mas o que a propaganda tem a ver com isso, já que sou publicitário e escrevo aqui como tal?

É que uma das grandes novidades deste nosso desafiador momento é a disposição das marcas em falar desses temas e até assumir posições.

Não é que com isso a nossa vida de criadores de comunicação ficou mais fácil, mas se tornou bem mais interessante. Fazer humor, ousar, mexer com as pessoas sem ofender nem excluir é um desafio e tanto.

Temos na Onzevinteum, agência de propaganda da qual sou sócio, alguns exemplos de uma comunicação ousada, criativa, ágil, que brinca com a política, por exemplo, sem tomar partido e sem gerar a reação desmedida dos haters, muito pelo contrário.

Nosso trabalho para a cerveja Rio Carioca por exemplo, vem explorando há dois anos o momento político do país e em particular do Rio de Janeiro, sem escolher lados ou mostrando preferências. Também para o ovo Mantiqueira, participamos de uma ação que envolveu o prefeito de São Paulo sem que com isso a marca mostrasse qualquer posicionamento político.

Esses dois exemplos - temos mais alguns - trouxeram não só resultados acima da média para as marcas como aumento de vendas.

Ou seja, o politicamente correto não só não é desculpa para ser menos ousado ou menos criativo, ao contrário. Sempre que a gente encontra barreiras, a tendência é ser mais criativo.

Afinal, piada fácil com ofensa a alguém é mole, desafio mesmo é agradar a (quase) todos, tirar uma emoção do consumidor e não ser incorreto com ninguém. É como diz uma anúncio nosso:

A gente não está sendo politicamente correto, a gente está sendo correto.

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