Para a segunda supresa há, sim, razões técnicas: a queda do preço do petróleo é, em parte, fruto de uma demanda global fraca, e do aumento da produção “alternativa” norte-americana, com base em óleo de xisto. Porém, o que tem causado estranhamento tem sido a disposição do cartel internacional do petróleo de não resistir ao movimento de queda. Alguns países produtores não resistem há muito tempo a essa tendência (o exemplo mais dramático é a Venezuela, que mesmo antes do tombo do preço do petróleo, já tinha uma situação fiscal delicada). Mas outros, como por exemplo, a Arábia Saudita tem um custo de produção de petróleo baixíssimo, o que lhes permite aguentar o tranco por tempo suficiente para comprometer diretamente os produtores com custo mais elevado — como por exemplo, os produtores de óleo de xisto norte-americanos.
Para nós brasileiros, as duas surpresas podem trazer algum alívio. Afinal, a queda das taxas de juros de longo prazo nos EUA garante afasta o risco de saídas significativas de capital, no momento em que as incertezas domésticas e internacionais poderiam criar incentivos nesse sentido. Isso permite que a desvalorização do nosso real possa ser melhor controlada pelas autoridades monetárias, sem custos elevadíssimos para o banco central (ou para o erário). E uma desvalorização mais suave, necessária (mas não suficiente) para a recuperação da competitividade; pode reduzir os problemas nas contas externas, além de evitar riscos inflacionários e, portanto, elevações ainda maiores das taxas de juros.
O sofrimento vem do fato de que nenhum destes resultados é garantido. Por exemplo, se os próximos indicadores de trajetórias de preços nos EUA indicarem qualquer tendência inflacionária por lá, o Fed se verá obrigado a atuar no sentido de aumentar os juros. Isto poderia provocar fluxos de saída de capital, pressionar ainda mais o câmbio, levando a respostas mais fortes por parte das nossas autoridades monetárias — em um momento em que nossas taxas de juros reais são muito altas. Se o preço do petróleo subir muito rapidamente, pode ajudar a valorizar as ações da Petrobras, mas terá efeito recessivo sobre os nossos mercados internacionais e pode, caso repassado para os preços internos, gerar pressões inflacionárias no país. Claro que, como há um número de combinações das trajetórias da taxa de juros internacionais e preços do petróleo, aumenta significativamente o grau de incerteza que permeia o mercado internacional. E nada atrapalha mais os investimentos do que o excesso de incerteza.
Este verão tem portanto tudo para ser lembrado não só pelas altas temperaturas no Brasil, mas também como meses de grandes incertezas nos mercados, nacionais e internacionais. A sorte é que nós, brasileiros, conhecemos bem e estamos bem preparados para enfrentar enfrentar altas temperaturas. Também temos recursos suficientes e sabemos como surfar pelas águas internacionais movimentadas. Tudo é questão de manter a cabeça fria, e seguir em frente.