
É difícil de imaginar, mas Beth nunca morou na Zona Norte. Criada entre Ipanema e Botafogo, ela frequentava, na juventude, “festas regadas a champanhe, uísque e caviar”. Começou na música apaixonada pela bossa nova. Mas desde cedo frequentava o subúrbio e corria atrás do samba.
“O Sergio Cabral (jornalista) diz que eu sou o Túnel Rebouças, por unir Zona Norte e Zona Sul”, brinca. E sempre foi assim. “Meu pai era um intelectual de esquerda, um homem muito simples. Entendia meu fascínio pelo samba. Desde pequena, eu ia a Marechal Hermes e Cascadura, minha mãe tinha amigas lá. E ia de trem! Imagina se alguém da Zona Sul anda de trem?”, espanta-se Beth. “Conheço a Zona Norte melhor do que muita gente de lá. E a região está mais orgulhosa de si.”
Chega a hora de falar de ‘Ao Vivo no Parque Madureira’, que traz sucessos das rodas, como ‘O Show Tem que Continuar’, ‘Pandeiro e Viola’, ‘Coisa de Pele’, ‘Meu Lugar’ e ‘Senhora Rezadeira’ misturadas a recentes canções, como ‘Estranhou o Quê?’ (Moacyr Luz) e ‘Parada Errada’ (Rogê, Rodrigo Leite e Serginho Meriti), cuja letra é o depoimento da mãe de um viciado em crack. “Todo mundo aplaudiu essa música. E cheguei a achar que ela era de difícil entendimento, acredita? Sinto que ela tem algo de ‘Meu Guri’ (de Chico Buarque, que dava voz à mãe de um morador do morro envolvido com o crime).”
‘Ao Vivo no Parque Madureira’ tem duas participações afetivas e especialíssimas: a sobrinha de Beth, Lu Carvalho, em ‘Devotos do Samba’, e o afilhado Zeca Pagodinho, em ‘Deixa a Vida me Levar’, ‘Ainda É Tempo Pra Ser Feliz’ e ‘Arrasta a Sandália’ (esta, feita pela filha de Beth, Luana Carvalho, e por Dayse do Banjo).
“A Luana tem um trabalho bonito, vai sair em breve. Vocês vão ver”, diz Beth. “A Lu sempre foi sambista, a levava para as rodas desde cedo. E o Zeca é o rei! Quando o levei comigo para o ‘Fantástico’ para cantar ‘Camarão que Dorme a Onda Leva’, ele teve que aprender a dublar. Fingiu que estava tocando cavaquinho e cantando. E ele hoje é um veterano!”, orgulha-se.
Beth gravou o DVD sentada, cuidando da coluna após um ano de cama devido a complicações de uma cirurgia. “O público queria me ver de qualquer jeito, sentada, deitada.... Frida Kahlo pintou deitada, e, se precisar, canto assim também!”
INSTITUTO BETH CARVALHO