
O ano de 2016 foi seu retorno ao futebol após duas temporadas afastado. Como foi essa volta?
Muita gente não acreditava no time do Grêmio, acertamos o que precisava e a equipe evoluiu muito, decolou. E jogando em duas frentes (Brasileiro e Copa do Brasil). Não foi mole, não!
Mesmo campeão da Copa do Brasil, tem quem ainda questione o seu trabalho. A direção do Grêmio foi alvo de críticas por ter te escolhido. Por que isso?
O problema na verdade é que tem muitas pessoas que não falam do meu trabalho, falam da minha vida, têm inveja da minha vida. Infelizmente. Treinador é feito de números. Vejam meus números. Fiz trabalhos maravilhosos, e só pego p... Ninguém fala do que foi feito no Vasco (2005), no título da Copa do Brasil pelo Fluminense (2007), no Grêmio, em 2013, que todo mundo dizia que seria rebaixado e fomos vice-campeões brasileiros. Tá ruim? É mais fácil atacar a vida particular do Renato, do que falar do meu trabalho, que é o que importa. Qualquer outro treinador que tivesse o meu desempenho nesses clubes, c..., que treinador que ele seria!”
Emerson Leão (ex-goleiro e gestor de futebol da Portuguesa) te parabenizou por dizer que é uma piada técnico ir à Europa fazer curso de dez dias.
Parabéns ao Leão por me entender. Falar bonito, eu falo em faculdade. Para os meus jogadores, eu tenho que fazê-los me entender. É o que conta no final. Me diz qual foi o treinador que saiu daqui, foi pra fora e trouxe algo diferente pra cá. Só quero um! Faz o seguinte: chama os treinadores que acham que têm que chamar, chama 30 jornalistas, sei lá, eu também estarei presente, vou ficar neutro no encontro, e pergunta um a um se não tenho razão nessa declaração. No Brasil, a gente tem cinco ou seis treinadores p..., nenhum discordou do que eu disse. Conhece alguém que faz faculdade de medicina e dez dias depois vai operar? Não, né? Nem eu.
As dúvidas te irritam?
Não. Pô, me irritar... Meu amigo, tenho tudo na vida, não me falta nada. Meus trabalhos falam por mim. É o que te digo: é quando entram aqueles caras e pensam: onde é que vou atacar ele? Vou ali. Estou mais do que vacinado, nada me atinge. Sei do meu potencial, do meu conhecimento e ponto final. Como será que os nossos comentaristas de futebol iriam se sentir, caso eu sugerisse que eles deveriam ir ao exterior fazer cursinhos? Veja bem: não tenho nada contra se aperfeiçoar, só não venha com foto ao lado de treinador famoso após dez dias e querer me enganar.
Qual é sua opinião sobre essa geração de novos técnicos do Rio, com Zé Ricardo (Flamengo) e Jair Ventura (Botafogo)?
Os dois têm potencial, mas agora é que vamos ver o real trabalhos deles. Uma coisa é ser interino. Se der errado, “pô, sou interino”. Se der certo, ok. O cara não entrou com aquela responsabilidade toda. Os deles estão na reta agora. Ou você acha que o Botafogo, os caras brigando entre eles, iria se classificar contra o meu time, caso tivesse que fazer o resultado? Acorda. Coloquei os reservas dos reservas (na última rodada do Brasileirão, o Botafogo venceu o Grêmio por 1 a 0 e carimbou a vaga para a Libertadores. Neste jogo, os alvinegros Airton e Sassá brigaram em campo).

E Conca no Flamengo? Tem analista de futebol dizendo que ele e o Diego não podem jogar juntos, assim como Camilo e Montillo no Botafogo.
Você tem prazo de validade como técnico? Pensa em parar quando?
Estava conversando com o Cuca, trocando algumas ideias, e perguntei se ele ficaria no Palmeiras. Ele me disse assim: “Renato, você tem é que está certo. É estressante demais”. Caixão não tem gaveta. Tem que trabalhar, tem que ganhar dinheiro, mas tem que saber dosar. Não quero que falte nada à minha família, mas, se tiver estressante, dou um tempo. Não pego mais rabuda. Não passo dos 60 anos na ativa.
Em 2016, você sofreu dois golpes duros: a morte do seu amigo Gaúcho (ex-atacante do Flamengo, vítima de câncer) e a tragédia com a Chapecoense.
O Gaúcho, cara, todo mundo sente falta dele aqui na rede de futevôlei, era meu irmão. Foi iludido por um médico do Paraguai, tentamos ajudar, mas já era tarde. Com a Chapecoense, eu trabalhei com quase todos ali. Joguei com o Caio Júnior e o Mário Sérgio, trabalhei com supervisores, fisioterapeutas e mais um dez jogadores. O que não pode é um irresponsável daquele pilotar e depois descobrir que toda hora fazia aquilo.

Aquele caso da Carol, no STJD, com a quase punição ao Grêmio com perda de mando de campo na final da Copa do Brasil. Se fosse com a filha de outro treinador, teria o mesmo peso?
Ajuda, mas comecei a peitar os caras do Tribunal porque fui descobrir que quem estava julgando dizia aos advogados do Grêmio: “O Renato é marrento, pegava geral, jogava com fitinha de patrocinador na cabeça”. Ou seja, estavam julgando a mim, não a entrada da Carol no campo. Ela estava credenciada pela CBF para estar no campo (na final). Entrou, e vai entrar outras vezes”.