Rio - A bala perdida que atingiu uma menina de sete anos, quando ela estava em casa na Cachoeira Grande, no Complexo do Lins, foi o principal motivo para os atos violentos que aconteceram na região, neste domingo. Baleada no ombro direito, a criança foi encaminhada para o Hospital Salgado Filho, no Méier, teve alta na manhã desta segunda-feira e está na casa de parentes, no bairro do Engenho Novo, na Zona Norte.

De acordo com a mãe da vítima, Andreia Henrique da Silva, ela estava em casa, em Cachoeira Grande, com os cinco filhos vendo TV, quando por volta das 16h30, a menina foi pegar um refrigerante e foi atingida de raspão no ombro. Segundo uma vizinha de Andreia que não quis se identificar, o disparo saiu da arma de um PM, no momento em que ele perseguia um suspeito no local. Ainda de acordo com informações, a Polícia Militar teria se negado a socorrer a menina, que foi levada para o Hospital Naval Marcílio Dias, também no Lins, sendo transferida depois para o Salgado Filho.
Após a menina ser baleada durante confronto entre policiais e traficantes, diversos atos violentos aconteceu no local, como o fechamento da Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá, incêndio de veículos e de um contêiner da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), no acesso ao Morro do Gambá.

Durante a madrugada o cenário no bairro era de uma praça de guerra. O tumulto começou por volta das 21h30. Os moradores do Morro da Cotia, que fica às margens da pista sentido Zona Norte. Eles fecharam a via e atearam fogo a entulhos, lixo e madeira. PMs da UPP tentaram intervir e foram atacados. Além da viatura 54-5486 que ficou destruída, houve tentativa de queimá-la com os policiais dentro do veículo, segundo PMs.
O ônibus da linha 600 (Praça Saens Pena-Taquara), da Viação Redentor, foi cercado e queimado, além de uma Fiat Uno. A revolta se generalizou pelo bairro. Na Rua Lins de Vasconcelos, um ônibus da linha 606 (Engenho de Dentro-Rodoviária), via Boca do Mato, da Viação Mathias, foi incendiado. De acordo com o funcionário de um posto de combustíveis que fica a dez metros do local, o estabelecimento só não foi alvo dos manifestantes porque a PM chegou rapidamente ao local.

"O posto já tinha fechado. Estava jogando água no veículo de um último cliente quando ouvi uma explosão. Vi um homem com roupa de rodoviário fugindo desesperado. Quando olhei o ônibus já estava em chamas e várias pessoas correndo. Se o posto está aberto e esse ônibus é queimado aqui em frente seria um tragédia", descreveu o frentista, que preferiu não se identificar por medida de segurança.
Na Rua Vilela Tavares, onde o comércio local está fechado na manhã desta segunda-feira, um ônibus da linha 651 (Méier-Cascadura), da Viação Estrela, também foi atacado e destruído, a cerca de 50 metros da entrada do Marcílio Dias. As chamas do ônibus atingiram o segundo andar de um armazém. Os manifestantes fizeram várias barricadas na via com paus, sacos, madeira e entulho. Uma Kombi teve o vidro dianteiro atingida por pedradas. Bombeiros do quartel do Méier precisaram de apoio da PM para chegar ao local e combater o fogo.
Durante a confusão houve troca de tiros entre PMs e traficantes. Policiais do Batalhão de Choque, do 6º BPM e de várias UPPs seguiram para a região. De madrugada foram ouvidas explosões e disparos de arma de fogo. Não foram registrados outros incidentes até o início da manhã. Técnicos da Light trabalham para tentar restabelecer a energia elétrica na região.