Por thiago.antunes

Rio - Nem mesmo o YouTube Kids, aplicativo projetado para excluir conteúdos impróprios para crianças, tem conseguido de filtrar os vídeos do escândalo ‘Elsagate’ — desenhos animados e filmagens que plagiam personagens do universo infantil, mas que retratam cenas de violência e sexuais. Em rápida busca por personagens infantis, diversos vídeos impróprios disfarçados de infantis surgem. Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática vai intensificar a investigação e notificar o Google para retirada do material da internet.

 

Vídeos ‘Elsagate’%2C com conteúdo impróprio%2C mostram super-herois armados e em cenas de cunho sexualReprodução

A plataforma permite que os pais desativem o recurso de busca, mas ainda usa o mecanismo de reprodução automática, que encontra vídeos relacionados com bases em palavras-chave. Nas instruções de uso do YouTube Kids, que promete “uma experiência mais segura”, a empresa admite que não analisa manualmente todos os vídeos e afirma que “é possível que seus filhos encontrem algo que você não queira que eles assistam”.

 

Pais preocupados buscam outras plataformas para entreter seus filhos. É o caso da vendedora Thalia Santos, 20 anos, que desinstalou o aplicativo do tablet da filha de 3 anos ao tomar conhecimento do escândalo.

Segundo ela, os vídeos estavam provocando comportamentos estranhos na criança: “Eu estava desesperada. Ela começou a querer bater e enforcar, ficou com mania de pegar meus seios e dizia que o Homem-Aranha fazia isso”, explicou. “Comecei a procurar, coloquei um vídeo que ela gostava de assistir e os vídeos bizarros apareciam depois. Não deixo mais assistir”, completou. A assessoria do YouTube não foi encontrada para comentar.

 

Para Nelson Vasconcelos, colunista de tecnologia do DIA, a parte mais importante da divulgação do escândalo é a chamada de responsabilidade para os pais. “Hoje a segurança no meio virtual é tão importante quanto a segurança física da criança. A vida na Internet é tão real quanto fora da rede. Nós, que somos de outra geração, não entendemos, achamos que é tudo brincadeira inofensiva”, afirmou.

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Ele também defende que não é o caso de demonizar a tecnologia, já que o problema é o ser humano, e a internet é só ferramenta. “Precisamos lidar com ela de forma inteligente e perseverante, e ter um relacionamento com os filhos de transparência, respeito e carinho. Os perigos estão soltos na vida real e na Web”, lembrou.

 

Para o especialista em crimes na Internet Alexandre Matos, que é da Comissão de Direito da Tecnologia da OAB-RJ, os conteúdos podem ter outros propósitos perversos: “Links nas descrições dos vídeos podem conter programas que permitem a invasão do computador, das senhas, das câmeras”, alerta. Mas ressalva que o conteúdo dos vídeos é, por si só, preocupante: “Os pais devem conhecer as ferramentas que permitem controle dos conteúdos vistos pelos filhos”, lembra. 

‘Material feito em outros países’

 

A Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) anunciou ontem que vai notificar o Google e o YouTube pedindo a retirada dos vídeos do tipo ‘ElsaGate’. A equipe da delegacia intensificou a procura desse conteúdo na Internet após reportagem publicada no DIA sobre esse perigo às crianças.

 

“Normalmente é feito em outros países e veiculado na Internet. Já verifiquei conteúdo de apelo sexual em alguns e vamos tomar providências”, afirmou a titular da DRCI, Daniela Terra. Segundo ela, os pais devem ficar atentos para o uso da internet pelas crianças. “Não é só dar tablet ou celular e deixar a criança usando, pois conteúdos impróprios podem aparecer”, aconselhou.

Reportagem da estagiária Nadejda Calado, com supervisão de Joana Costa. Colaborou Bruna Fantti

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