Rio - O juiz Marcelo Bretas falou sobre as mudanças em sua rotina após assumir as investigações da Operação Lava Jato. O magistrado contou que já foi ameaçado de morte. "Não ando sem escolta. Estou aqui com um dos meus melhores amigos, que é policial", disse o juiz, no programa "Conversa com Bial", da TV Globo.
Nesta terça-feira, Bretas também comentou sobre a discussão com o ex-governador Sérgio Cabral. Em um depoimento sobre a compra de joias para a mulher Adriana Ancelmo, que também está presa, Cabral citou supostos negócios da família do juiz no ramo de bijuterias.

Bretas afirmou que a informação de que parentes dele trabalhavam com esse ramo já existiam. "Não foi por estar havendo ameaça, mas por uma avaliação do Ministério Público. Estavam chegando informações que não deveriam na prisão. Por isso ficou determinada essa mudança para outra unidade. Na decisão, inclusive, eu fiz questão de aguardar a decisão do desembargador relator e com a decisão no tribunal, eu fiz a solicitação de mudança”, destacou Bretas.
De acordo com o juiz, não é um momento de "medir forças". "O próprio acusado e o advogado se desculparam e eu considero superado”, acrescentou. Em relação à polêmica nas redes sociais, onde ele postou uma foto segurando um fuzil, o magistrado reforçou que não gosta de armas, mas as considera como um "mal necessário".
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“Eu recebi orientação oficial para fazer esse treinamento. Os juízes têm porte de armas, porte federal. Eu não estava em um local de trabalho, estava com os meus instrutores”, completou.
Prisão domiciliar de Adriana Ancelmo
Durante o programa, o Bretas afirmou que não se arrepende de ter concedido prisão domiciliar à ex-primeira-dama Adriana Ancelmo e disse que tem consciência de que a decisão desagradou a opinião pública.
“Não me arrependi e decidi de ofício, o que quer dizer que nenhum advogado me pediu isso. Talvez achassem que eu não decidiria dessa forma. Fiquei preso à minha palavra quando dei uma decisão contrária à acusada no fim de 2016, eu coloquei na decisão: ‘sei que tem filhos menores’. A lei diz que, em caso de filhos menores, o juiz pode conceder prisão domiciliar”, explicou o magistrado.
Acidente na Dutra
Em setembro de 1993, aos 23 anos, Bretas sofreu um acidente na Rodovia Presidente Dutra. Por causa disso, ele passou por mais de dez cirurgias e precisa ainda fazer exercícios faciais. “Faço ginástica para melhorar a dicção, até porque sou obrigado a falar muito nas audiências”, explicou Bretas.
O juiz lembrou que passou a se dedicar mais aos estudos e a se fechar depois do acidente. “Tudo o que aconteceu e acontece na minha vida acredito que tem um propósito. Não sou do tipo que reclama do que aconteceu, eu procuro extrair um aprendizado”, enfatizou.