Por SELECT ART

“Algumas pessoas se inspiram exatamente nas coisas do Pussy Riot que irritam outras: o jeito direto, a franqueza e um amadorismo desavergonhado”, escreve Nadya Tolokonnikova, fundadora do coletivo e banda punk no livro Um Guia Pussy Riot Para o Ativismo, publicado em 2018 nos Estados Unidos e recém-lançado no Brasil pela editora Ubu. De caráter biográfico, a publicação explicita essas características do grupo, em especial o amadorismo. Mas é justamente nisso que reside a potência mobilizadora das palavras de Tolokonnikova.

O livro divide-se entre dez regras para o ativismo, como, por exemplo: faça o governo cagar nas calças, seja um delinquente artístico e escape da prisão – a artivista foi presa em 2012, devido a uma brevíssima performance anti-Putin realizada na Igreja Catedral de Cristo Salvador, em Moscou. Cada uma dessas regras, por sua vez, une palavras que esclarecem a norma da vez, relatos de ações realizadas pelo Pussy Riot e exemplos de heróis, como bell hooks, pseudônimo da escritora Gloria Jean Watkins, e o duo ativista The Yes Men.

É possível arriscar e dizer que o guia não foi escrito para públicos especializados, seja em arte, seja nas questões sociológicas e políticas abordadas. As reflexões são rasas, as passagens curtas e a leitura simples. Por isso mesmo, o livro é capaz de impulsionar o ativismo. Ele leva a crer que, seguindo esse passo a passo, você pode, sim, ser um ativista.

Capa do livro Um guia Pussy Riot para o ativismo, escrito por Nadya Tolokonnikova (Foto: Reprodução)

 

Se, com a expansão das redes sociais, os protestos têm cada vez mais lugar na internet, Nadya Tolokonnikova mostra que não é tão impossível quanto parece levantar a bunda da cadeira de frente ao computador e de fato agir. Ao ler sobre as ações do Pussy Riot percebe-se que no fundo as intenções do grupo são elementares e suas ações dependem sobretudo da regra nº 7 do Guia: Não desista fácil. Resista. Organize-se.

O nome Guia revela que a intenção do livro é servir como manual para quem deseja se tornar um ativista. No entanto, se sua vontade é simplesmente saber mais sobre a autora ou o coletivo, ele também cumpre essa função. Logo na introdução, Tolokonnikova conta uma anedota sobre um artigo que fala de poluição, que ela escreveu quando tinha 14 anos. “Vivi muitas coisas desde então, entre elas ser presa e passar dois anos na cadeia. No fundo, porém, nada mudou para valer. Continuo fazendo perguntas que incomodam. Aqui, ali, em todo canto.” 

Serviço
Um Guia Pussy Riot Para o Ativismo
De Nadya Tolokonnikova
Ubu Editora, 2019, 288 págs., R$ 49,90
ubueditora.com.br

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