Por SELECT ART

Completamos um ano do incêndio que destruiu 90% do acervo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, sem que as promessas governamentais para a recuperação da instituição tenham sido cumpridas. O empenho para a formação de uma rede de apoio econômico para viabilizar a reconstrução do edifício consumidos pelas chamas, por exemplo, não saiu do papel. Por muito tempo, nos resignamos a entender o Brasil como um país sem memória e sem respeito à cultura. Os – pelo menos – dez incêndios em importantes instituições culturais ocorridos nos últimos dez anos são uma confirmação dessa máxima. Mas as características dos projetos inscritos nas últimas edições do Rumos Itaú Cultural, um dos mais longevos editais de fomento à arte e à cultura no país, indicam que esse quadro pode estar começando a mudar.

“O Programa Rumos nos indica caminhos”, afirmou Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, no lançamento do edital 2019-2020. “Nos ficou evidente o clamor do Brasil de cuidarmos de projetos de memória”. Outras questões emergentes nas últimas edições são destacadas por Saron e Ana de Fátima Sousa, gerente do Núcleo de Comunicação e Relacionamento. Entre elas, questões de identidade gênero. “Pela amostragem superior a de outros editais, o Rumos traz um retrato de seu tempo e tem a capacidade de fazer eclodir coisas que nem havíamos percebido”, diz Saron.

Ana Fatima de Souza, gerente de comunicação, e Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural (Foto: Denise Andrade)

Desde sua criação, em 1997, o programa recebeu mais de 64,6 mil inscrições, vindos de todos os estados do país e do exterior. Foram contemplados mais de 1,4 mil propostas das cinco regiões brasileiras. Considerando que Norte e Centro-Oeste tem historicamente menos inscrições, a equipe do Itaú Cultural reforça a importância de sua participação. A presença de Vania Leal, curadora educacional e adjunta do projeto Arte Pará, na comissão de seleção do Rumos 2019-2020, é uma forma de endossar o foco nessas regiões. “Temos um fluxo de isolamentos na Amazônia”, disse Vania na coletiva de imprensa. “E este edital contribui para a diversidade cultural e a propagação de cada comunidade que participa dele”.

Como estratégia de divulgação, a fim de angariar mais projetos dessas regiões, existem as “Caminhadas Rumos”, caravanas de equipes do Itaú Cultural que percorrem as 27 capitais brasileiras, promovendo debates e palestras. O roteiro tem início dia 5/9 em Cuiabá (MT), seguindo dia 6/9 para Porto Velho (RO) e 13/9 para Belém (PA).

“O país não tem política para as artes tanto quanto não tem política para memória. Não há inovação sem preservação”, continuou Eduardo Saron, avisando que daria um spoiler. “Decidimos dar mais dimensão ao tema da memória. Ano que vem teremos um chamamento público, além do Rumos, para projetos de digitalização, mapeamento e organização de acervos”.

As incrições para o Rumos Itaú Cultural 2019-2020 devem ser efetuadas pelo site https://rumositaucultural.org.br desde hoje (3/9) até as 23h59 de 18/10/19, horário de Brasília. A previsão é que mais de R$ 15 milhões sejam destinamos ao financiamento de cerca de 100 projetos de todo o Brasil.

Você pode gostar
Comentários