Por SELECT ART

A curadora-colecionadora Sandra Hegedüs em entrevista à seLecT

“Meus caros amigos” é o título da curadoria que a colecionadora Sandra Hegedüs assina no setor de projetos Solo, da ArtRio 2019. “Uma curadoria afetiva” , segundo sua definição, envolve Julio Villani, Brígida Baltar, Rodrigo Braga, Henrique Oliveira, Barrão, Pedro Varella, Alex Cerveny, Maria Laet, Rodrigo Bueno, o colombiano Iván Argote, entre outros – a maioria deles, artistas que passaram por seu programa de residências SAM Art Projects, baseado em Paris. Um projeto filantrópico, que paga transporte, estadia, custos de estadia e produção das obras e de uma exposição de três meses do Palais de Tokyo, uma das instituições mais prestigiosas da França. “A história da arte é uma história de filantropia” diz ela. Integra a curadoria também o carioca Maxwell Alexandre, convidado para a residência em Paris em 2020, ao lado da artista colombiana Libia Posada.

Conversa entre artistas e Sandra Hegedüs no espaço do Solo Projects da ArtRio (Foto: Paula Alzugaray)

Horas depois de pousar no Rio, Sandra conversou com a seLecT. No dia seguinte, quarta 18, no preview da ArtRio, ela nos falou, em primeira mão, sobre a parceria que acabava de formar com a Escola de Artes Visuais do Parque Lage. “As residências que faço são para artistas estabelecidos. Mas uma coisa super importante é pegar um jovem que está saindo de uma escola e levar pra passar dois meses em Paris. Não é uma residência de produção, mas de exploração, aprendizado.  Então a gente vai montar um comitê pra escolher um artista estudante que está saindo do Parque Lage e vir, a partir de 2020, passar dois meses em Paris.

seLecT: Como surgiu a SAM Art Projects? 

Sandra Hegedüs: A residência começou dez anos atrás com uma brasileira, a Elaine Tedesco, gaúcha. Comecei porque as pessoas vinham em casa e viam obras da Dora Longo Bahia, da Nazareth Pacheco, da Vânia Mignone, artistas conhecidos e já estabelecidos no Brasil, mas não conheciam. E eu pensava ‘como podem não conhecer’? E como posso fazer pra ajudar artistas já estabelecidos, mas que não conseguem ir para o eixo EUA-Europa? Eu não quis fazer só uma residência, mas um programa finalizando com uma mostra. Então, tinha que ser uma residência de produção com um resultado apresentado em uma instituição importante, para ninguém deixar de ver. 

Obra de Taus Makacheva, residente no SAM Art Projects em 2019, atualmente em exibição na Bienal de Lyon (Foto: Sandra Hegedüs)

Então as residências terminam sempre com uma mostra em uma instituição? 

Sempre. No começo, eram em várias instituições. Mas depois que o Palais de Tokyo fez sua reforma, o Jean de Loisy [presidente da instituição desde 2011] chegou, disse que queria fazer todas as minhas mostras. Então fiz minha base no Palais de Tokyo. Hoje todos os artistas da residência tem uma exposição individual no Palais de Tokyo. 

Obra de Felipe Arturo, residente no SAM Art Projects em 2019, atualmente em exibição na Bienal de Lyon (Foto: Sandra Hegedüs)

Como se dá a escolha dos artistas residentes? 

Quem sou eu para escolher? Eu era só uma colecionadora. Formei um comitê de oito membros e, cada vez que nós nos reunimos, cada membro propõe um artista. Aí, a gente vota em nosso preferido entre os propostos pelos outros. Dando 3 pontos para nosso preferido-preferido, 2 e 1. Aí contabilizamos os pontos e os dois que tem mais pontos fazem as duas residências anuais. Às vezes, há mais que duas residências ao ano, que duram o tempo necessário. O artista é quem decide. Agora, em 2019, o Palais de Tokyo pegou o comitê da Bienal de Lyon, que é a Bienal mais importante da França, formado pelos curadores do Palais de Tokyo. Então, os meus dois artistas escolhidos deste ano estão expondo na Bienal de Lyon, que abriu ontem. Felipe Arturo, da Colômbia, e Taus Makacheva, do Daguistão, uma República Independente da Rússia. O mesmo comitê escolhe o artista vencedor do Prêmio SAM. O comitê dura três anos. É uma teia que vou montando, levando o franceses para fora da França e trazendo os estrangeiros pra dentro. Misturando tudo e  fazendo enormes networkings

Batismo (2019) performance de Maxwell Alexandre no stand da Galeria A Gentil Carioca, no Solo Projects da Art Rio (Foto: Paula Alzugaray)

Seu foco então são artistas de países fora do eixo EUA-Europa? 

Sim. É um mapeamento. A gente pega o comitê de agentes franceses e leva-os numa viagem de estudos em território fora da Europa para explorar e ver o que está acontecendo fora. Ano passado, viemos pro Brasil e resultado: conhecemos o Maxwell Alexandre, que está indo para a residência no ano que vem. Dois anos atrás, fomos pra Colômbia, três anos atras fomos pro Senegal. Esse ano, a gente vai pra República Democrática do Congo. Pra Bienal de Lubumbashi, vou descobrindo lugares. 

E como você construiu sua curadoria no Solo Projects?

Todos os anos, eles escolhem um curador-colecionador para o Solo Projects. Foi meio punk porque eu estava ontem na Bienal de Lyon abrindo os projetos, mas tudo bem, deu tudo certo. A minha curadoria chama-se ”Meus caros amigos” e é formada pela família artística do SAM Art Projects: ou artistas com quem eu já trabalhei, ou artistas que eu conheço desde os anos 1980 e que fomos crescendo juntos, tipo Alex Cerveny, que conheço desde a época do Madame Satã, e que está na minha coleção e voilà. Fizemos um lounge onde vamos receber as pessoas e fazer conversas. Porque são meus caros amigos, a gente vai estar na sala, quem quiser vem e senta, a gente conversa e vai juntando… e fica uma coisa informal.

A curadora-colecionadora Sandra Hegedüs em entrevista à seLecT

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