Por bruno.dutra

São Paulo - Apesar da queda nos preços internacionais de produtos agropecuários como soja, açúcar e café, a participação do segmento nas exportações totais do Brasil continua crescendo. No primeiro semestre deste ano, o setor atingiu 44,4%, da pauta de exportações, segundo pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Escola de Agronomia da USP (Cepea-Esalq/USP).

“O bom desempenho das exportações brasileiras do agronegócio até agora foi resultado do maior volume embarcado, uma vez que as cotações dos principais produtos, como soja, açúcar, café e carne de aves se mantiveram em queda no primeiro semestre”, explica a pesquisadora do Cepea, Andréia Cristina de Oliveira Adami.

Segundo Andréia, embora os preços tenham caído, o faturamento do setor se manteve estável em relação ao primeiro semestre de 2013. “A manutenção do faturamento está relacionada ao crescimento de volume embarcado dos produtos do complexo da soja (grão, farelo e óleo), café, carne bovina e madeira, já que em termos de preços, apenas a carne suína, o farelo de soja, frutas e etanol apresentaram alta no período”.

A pesquisadora do Cepea explica que a desvalorização do câmbio no mercado doméstico levou um efeito positivo para quem produz, incentivando o agricultor brasileiro a ampliar suas exportações. Essa opinião é compartilhada pelo consultor da Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez: “A manutenção do dólar elevado na comparação com o real no primeiro semestre compensou a queda de preço no mercado internacional. Por isso, muitos produtores nacionais preferiram aumentar as vendas internacionais em detrimento do mercado interno, o que colaborou para aumentar o volume vendido lá fora e manter o faturamento nos mesmos níveis do ano passado”.

Para o segundo semestre, a tendência é que os preços internacionais continuem caindo, mas sem a compensação do aumento de volume embarcado. A redução nos preços, diz Gutierrez, se deve principalmente à expectativa de uma supersafra de soja e milho nos Estados Unidos, ao contrário do que ocorreu nos ciclos anteriores, quando problemas climáticos prejudicaram a produção e derrubaram os estoques, pressionando os preços para cima. No Brasil, a tendência também é de safra de grãos recorde, o que ajuda a derrubar os preços internacionais.

“Teremos uma produção mundial de mais de 300 milhões de toneladas de soja neste ano, volume nunca antes alcançado. E, embora a demanda continue crescendo nos mercados emergentes, puxada por China, ela não consegue acompanhar o aumento da oferta. Esse descasamento traz a expectativa de manutenção de queda nos preços”, afirma Gutierrez.
Consultor da Empiricus, Gabriel Casonat concorda que as expectativas para os produtores de grãos não são muito animadoras neste segundo semestre.

“Por conta desse excesso de oferta, acho difícil que os produtores brasileiros consigam exportar um volume maior no segundo semestre deste ano, o que por si só já seria prejudicial. Some-se a isso os preços em queda no mercado internacional e temos um cenário difícil aos produtores brasileiros de grãos para a safra vigente”, afirma Casonat.

A boa notícia, diz ele, é que a queda nos preços internacionais traz algum efeito de queda na inflação doméstica, já que suaviza os preços dos alimentos de um modo geral, “componente importante dos indicadores inflacionários”, lembra o consultor.

O cenário do agronegócio é mais animador para o setor de proteína animal, tanto em termos de preços quanto de demanda. O embargo russo aos produtos americanos e da União Europeia pode elevar as exportações nacionais. O consultor enxerga de forma positiva a expectativa de aumento das vendas para a Rússia após a liberação, pelo país, para mais de 80 frigoríficos exportarem carne bovina, suína e aves.

“Além disso, a China tem demonstrando um crescimento bastante robusto da demanda por carne bovina, favorecendo diretamente as vendas dos pecuaristas brasileiros”, diz Casonat.

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