Por bruno.dutra

Rio - Em números absolutos, São Paulo continua ditando o ritmo do crescimento demográfico brasileiro, mas uma análise dos dados divulgados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que a população da Região Norte tem crescido de forma acelerada nos últimos anos, impulsionada por grandes obras de infraestrutura e o aquecimento da atividade extrativa. Entre 2004 e 2014, o número de habitantes aumentou acima da média brasileira em todos os estados da região, em um processo de urbanização que cria desafios para os gestores locais, segundo especialistas. Na outra ponta, Sul e Sudeste registraram aumento relativo inferior à media no período.

Um recorte nas projeções de população brasileira divulgadas na última semana pelo IBGE mostra um crerscimento de 11% entre 2004 e 2014, chegando a 202.768.562 habitantes. O cálculo é feito anualmente, com base no dia 1ª de julho, e este ano passou a integrar uma página no site do IBGE que acompanha a projeção em tempo real. Levantamento feito pelo Brasil Econômico aponta que, desde 2004, 15 estados e o Distrito Federal cresceram acima da média — a maior parte localizada no Centro-Oeste, nova fronteira agrícola, e no Norte. Entre as cinco maiores taxas de crescimento, quatro estão no Norte: Amapá, Roraima, Acre e Amazonas (a outra pertence ao DF).

Segundo especialistas, a base de comparação mais favorável e a alta taxa de fecundidade, ainda superior à média nacional, explicam parcialmente o fenômeno. Mas os dados do IBGE apontam também um fluxo migratório expressivo para a região, o que pode ser explicado pelo impulso econômico provocado por grandes obras e pela atividade de mineração. “Há um crescimento vegetativo, mas podemos ver pelo saldo migratório que existe também um componente econômico”, diz Luciano Gonçalves, pesquisador do IBGE. “A região vive um momento de grandes projetos, como a hidrelétrica de Belo Monte, a mina de Carajás e instalação de novas fábricas”, completa.

No período levantado pelo Brasil Econômico, o fluxo migratório dos estados da Região Norte é positivo em 47.873 habitantes. É um valor pequeno, se comparado ao Centro-Oeste (827.281), mas com impacto sobre os indicadores demográficos da região. E são puxados para baixo pelo Pará, que apresentou fluxo demográfico negativo de 87.697 no período. “Há grande migração entre os estados da região e também de trabalhadores vindos do Nordeste, principalmente do Maranhão”, diz Luis Aragón, pesquisador do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea) da Universidade Federal do Pará.

A maior parte dos migrantes se estabelece em centros urbanos, o que tem criado problemas como favelização e pressão sobre serviços públicos essenciais, diz o pesquisador. “A Amazônia já experimentava um movimento de urbanização, com pessoas fugindo da violência do campo. Com o crescimento da migração, essa questão se agrava”, analisa. No Amapá, estado que apresentou o maior crescimento relativo de população entre 2004 e 2014, diz ele, a chegada de novos trabalhadores é fomentada por oportunidades na capital Macapá, como a oferta de empregos nos setores de comércio e serviços e a atração de estudantes para universidades locais. Entre 2004 e 2014, o fluxo migratório no estado foi positivo em 39.666, o maior índice da região.

“Hoje, podemos dizer que a Amazônia tem dois problemas: desmatamento e crescimento urbano descontrolado”, conclui Aragón. Entre 2002 e 2010, Tocantins, Rondônia, Acre, Amapá e Maranhão foram os cinco estados brasileiros com maior crescimento econômico do país, segundo dados do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados pelo mesmo IBGE. Mais uma vez, a baixa taxa de comparação ajuda a inflar o indicador, mas o crescimento da renda local, o início das obras de hidrelétricas na Amazônia e a expansão das fronteiras agrícolas e minerais rumo à floresta têm dado grande contribuição.

As projeções demográficas divulgadas na semana passada pelo instituto apontam que, em 2030, a população da região Norte chegará a 20,3 milhões de habitantes, um crescimento de 18% com relação à atual — índice ainda maior do que a média nacional projetada para o mesmo período, de 10%. O trabalho já considera uma queda na taxa de natalidade nos próximos anos, fruto da maior urbanização. Em termos relativos, o Amapá continuará tendo posição de destaque, com crescimento de 30% no período, chegando a quase 1 milhão de habitantes em 2030. O Acre também deve chegar perto da marca de 1 milhão de habitantes e o estado mais povoado da região, o Pará, pode chegar a 9,3 milhões, crescimento de 15% com relação ao número verificado em 2014.

Sul e Sudeste entre os que menos crescem

Entre os estados do Brasil com maior crescimento populacional nos últimos 10 anos, o Distrito Federal é o único fora da Região Norte a figurar na lista dos cinco maiores, registrando um aumento de 25% em sua população entre os anos de 2004 e 2014. Para Luciano Gonçalves, pesquisador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desenvolvimento é impulsionado pela busca por empregos no serviço público. Em 2014, o DF tinha 2.852.371 habitantes, de acordo com dados da instituição.

Levantamento feito pelo Brasil Econômico sobre os dados do IBGE mostra que, na outra ponta da tabela, o estado que registrou menor crescimento relativo foi o Rio Grande do Sul, com aumento de apenas 5%. Três estados do Sudeste — Minas Gerais, Rio e São Paulo — também registraram crescimento abaixo da média no período, embora os dois últimos liderem a lista de atração de migrantes no país. Apenas São Paulo atraiu, entre brasileiros e estrangeiros, 531,2 mil pessoas no entre 2004 e 2014.

Os dados indicam que a Região Nordeste permanece com grande fluxo negativo de migrantes: no período analisado, 1,6 milhão de pessoas na região deixaram seus estados. As exceções são Rio Grande do Norte e Sergipe, que apresentaram fluxos positivos de migração, de 27.367 e 18.321, respectivamente. Estado mais populoso da região, a Bahia é responsável pelo maior fluxo negativo de migrantes: 581.912 pessoas no período analisado. No Sul, apenas Santa Catarina apresenta maior chegada do que saída de pessoas, um saldo positivo de 387.825 pessoas entre 2004 e 2014.

A estatística do IBGE é usada na definição de repasses pelos fundos de participação dos estados e dos municípios. A partir de uma revisão nas metodologias de estimativa demográfica, o instituto criou a página Projeção da população do Brasil e das Unidades da Federação, com dados em tempo real sobre projeções da população do país, trabalho inspirado em modelo adotado pelo US Census Bureau, instituto de estatísticas do governo americano.

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