Por douglas.nunes

Os ministros da Fazenda dos países que compõem o G20 reúnem-se esta semana, em Brisbane, na Austrália, para fazer um balanço do desempenho das economias que lideram, no intuito de preparar o encontro de cúpula que acontecerá em novembro. Os presidentes das nações que integram o G20 acordaram em implementar medidas que propiciem a elevação das projeções de crescimento para 2018 em dois pontos percentuais.

Secretário de Assuntos Internacionais da Fazenda%2C Carlos Cozendey vai representar Guido MantegaAndrew Harrer/Bloomberg

No caso brasileiro, isso significaria elevar a atual projeção feita pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), em torno de 3,5%, para 5,5%, a partir do aumento dos investimentos em infraestrutura, da melhor qualificação da mão de obra do país e do incentivo às pequenas e médias empresas. Na opinião do economista-chefe do Santander, Maurício Molan, trata-se de uma meta “pouco realista”.

“Aumentar em dois pontos percentuais a expectativa de crescimento é desejável, mas pouco factível”, afirma Molan. O primeiro entrave, segundo ele, está na questão do menor crescimento demográfico: “A nossa população crescia 2% ao ano no início da década passada e agora cresce 1%, o que torna mais difícil atingir a meta de crescimento, pois a mão de obra é dada pelos fatores demográficos”.

Outra saída seria aumentar os investimentos e a produtividade. “O aumento da qualificação e da educação para gerar ganho de produtividade do fator trabalho. Outro aspecto importante é uma infraestrutura adequada para atrair mais investimentos”, diz. Nesse sentido, o diagnóstico feito pelo governo brasileiro sobre as medidas necessárias para destravar o crescimento está correto. “O problema está na sua implementação. O que observamos no caso brasileiro é que nos últimos 20 anos os investimentos ficaram entre 16% e 19% do PIB (Produto Interno Bruto) e a produtividade total dos fatores cresceu, em média, 1% ao ano”, pondera o analista.

Molan prevê que, mantendo-se o atual cenário — crescimento populacional de 1% ao ano, investimento de 17% do PIB e produtividade de 1% ao ano — a expansão potencial da atividade econômica brasileira ficará entre 2% e 2,5% do PIB daqui a cinco anos. O economista-chefe do Santander considera que, se for feito o dever de casa, o crescimento chegará a 3,5% ou 4% do PIB no período.

Para ele, contudo, a condução macroeconômica é determinante para que o objetivo seja atingido. “A reunião do G20 não traz um otimismo maior. É um objetivo pouco realista de ser perseguido. Uma expansão maior só será possível em um cenário de inflação em queda e baixa, superávit primário elevado, tarifas públicas corrigidas e não mantidas artificialmente, além da realização de reformas na área tributária e trabalhista que melhorem a eficiência do país.”

“Se tivermos um Estado mais eficiente, sobrarão mais recursos para infraestrutura. Com uma inflação menor, teremos juros menores, o que facilitará os financiamentos. Num ambiente em que as tarifas de energia, por exemplo, não têm subsídios implícitos, haverá mais projetos de energia alternativa. Esse conjunto de medidas determina até que ponto se tornará atrativo o investimento no país”, acrescenta.

Fontes do governo brasileiro afirmam que, com projetos desenvolvidos na área de infraestrutura, como as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e os programas de concessões previstos no Programa de Investimento em Logística (PIL), o país já conseguiu elevar em um ponto percentual a projeção de crescimento para daqui a cinco anos. Mas reconhecem que atrasos nas licitações de setores como o de ferrovias e portos tendem a fazer com que o FMI “subavalie” os avanços brasileiros.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega será representado na reunião, prevista para os dias 20 e 21, pelo secretário de Assuntos Internacionais, Carlos Cozendey.

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