Por monica.lima
São Paulo - Depois da TV de LED, da geladeira duplex, do computador e do smartphone a classe C está avançando na educação. Nunca houve tantos jovens das classes média e baixa cursando universidades, reduzindo quantitativamente a desigualdade no ensino superior do país. Em 1994, havia 1,7 milhão de pessoas em curso superior. Em 2014 esse número saltou para 7 milhões, sendo que 4,4 milhões são jovens e, desses, 2,3 milhões são das classes média e baixa.
“Pela primeira vez na história existe um número maior de jovens das classes média e baixa nas universidades do que os mais ricos”, afirma o sócio-diretor da Plano CDE Maurício de Almeida Prado, lembrando que os avanços vão além dos cursos universitários. Segundo Prado, os jovens da faixa etária entre 15 e 24 anos têm o dobro da escolaridade de seus pais, chegando a nove anos. Já entre adultos acima de 50 anos, essa escolaridade é, em média, de quatro anos e meio.
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Prado reconhece que existe uma discussão muito grande sobre a questão qualitativa desse ensino, mas afirma que, mesmo do ponto de vista puramente quantitativo, o ganho não pode ser ignorado. “As pesquisas não conseguem qualificar esse ganho educacional, mas a simples diminuição da diferença entre ricos e pobres nas universidades já é um avanço importante. Na minha opinião, ainda que esses cursos sejam um complemento do ensino médio, é um avanço”, afirma.
Segundo Prado, isso implica que o profissional do futuro vai pertencer às classes média e baixa com um padrão de demanda por serviços públicos maiores do que os atuais. “O fenômeno dos movimentos de 2013 já foi um reflexo disso. O jovem pobre melhorou sua escolaridade e ascendeu às universidades, mas continua pobre e usando serviços públicos. Ele não tem plano de saúde e nem carro particular. Ele está na universidade, mas quer também um serviço público de qualidade, ao contrário do universitário de até então, que tinha essas demandas suprimidas pelo particular”, explica Almeida.
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Ou seja, esse jovem não tem como bancar a universidade e serviços particulares. Por isso, opta pelo estudo e cobra mais qualidade no atendimento social. “Em um cenário de baixo crescimento como o atual, a construção de ativos é estratégica para que a classe média e os pobres continuem a progredir. Não é difícil entender a escolha pela educação”, diz.
Aumento do acesso ao ensino básico, políticas públicas para ampliação de vagas e acesso a financiamentos são alguns dos fatores apontados por Prado para esse crescimento no acesso ao ensino superior. “Mas a melhora da renda das famílias, com ganho real dos salários, foi fator primordial para esse crescimento”, afirma o cientista político.
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Por isso mesmo, ele vê com cautela as discussões sobre mudanças no cálculo do salário mínimo. Segundo Almeida, um impacto negativo muito grande nos ganhos reais pode colocar em risco os avanços dos últimos anos. Por outro lado, ele reconhece que há também o risco de o país perder a competitividade na comparação com outras nações pares.
“É difícil desarmar essa armadilha: ter ganho real dos salários foi bom por um tempo, mas a mão de obra fica muito cara se a produtividade não crescer na mesma velocidade”, diz o pesquisador.
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Brasil ainda distante de países da OCDE
Mesmo com os ganhos, o Brasil ainda patina comparado com os países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A proporção de pessoas de 25 a 34 anos com nível superior é de 15,2% no Brasil, pior índice entre os 35 membros. No topo do ranking está a Coreia do Sul, com 65,7%. Mas países considerados em desenvolvimento, como México e Chile, têm índices acima de 22%.
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“O Brasil pode não estar evoluindo na velocidade que gostaríamos, mas está melhorando. Estamos muito melhor agora do que estávamos há duas décadas. Não dá para negar”, diz Prado.