Por douglas.nunes
São Paulo/ Brasília - Um apagão orquestrado atingiu pelo menos dez Estados nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, além do Distrito Federal, na tarde desta segunda-feira, após o aumento na demanda por energia no horário de pico ter desequilibrado condições de operação do sistema elétrico do país.
Segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS) elétrico, o desequilíbrio fez o órgão exigir que distribuidoras de energia fizessem um corte seletivo no fornecimento para restabelecer as suas condições normais. O corte atingiu cerca de 5% da carga do sistema nacional, segundo ONS.
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Os Estados atingidos pela medida foram São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal.
Além de ter causado o blecaute, o incidente derrubou as ações de empresas do setor na bolsa de valores paulista e causou uma série de transtornos, como falhas em sistemas de transporte público.
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"Restrições na transferência de energia das Regiões Norte e Nordeste para o Sudeste aliadas à elevação da demanda no horário de pico, provocaram a redução na frequência elétrica", disse o ONS em nota.
Em seguida, houve o desligamento de unidades geradoras de energia em 10 usinas do país, incluindo a nuclear Angra I, totalizando 2.200 megawatts (MW). Com isso, houve a redução da frequência da eletricidade do normal de 60 para 59 Hertz (Hz).
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Segundo um especialista em setor elétrico do governo federal que pediu para não ser identificado, quedas de frequência ocorrem quando há algum tipo de desequilíbrio, mesmo que momentâneo, entre a oferta e a demanda.
A fonte acrescentou que o Sudeste brasileiro vive hoje uma situação delicada porque sua geração de energia está reduzida por conta da falta de água nos reservatórios das hidrelétricas. Com isso, a região está dependendo da importação de energia do Nordeste e do Sul para cobrir todo seu consumo.
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Além do baixo nível das represas, o incidente aconteceu num momento de crescente temor de racionamento de energia no país por conta de chuvas abaixo da média histórica e temperaturas recordes nas regiões em que ficam importantes usinas geradoras de eletricidade e centros de consumo de energia.
Segundo a Climatempo, o fim de semana registrou recordes de calor em diversas capitais brasileiras, algo que se repetiu nesta segunda-feira. A capital paulista, por exemplo, registrou 36,6 graus de temperatura máxima, maior de 2015 e a quarta maior para um mês de janeiro na história das medições, em 1943.
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Altas temperaturas motivam o maior consumo de eletricidade pelo uso de equipamentos de refrigeração.
Na sexta-feira, boletim do ONS reduziu para 18,5 por cento a estimativa de nível dos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste do país no fim de janeiro, diante da perspectiva de menos chuva que o esperado anteriormente para este mês.
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Veja na íntegra da nota do ONS:
"No dia 19 de janeiro, a partir das 14h55, mesmo com folga de geração no Sistema Interligado Nacional (SIN), restrições na transferência de energia das Regiões Norte e Nordeste para o Sudeste, aliadas à elevação da demanda no horário de pico, provocaram a redução na frequência elétrica.
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Na sequência, ocorreu a perda de unidades geradoras nas usinas Angra I, Volta Grande, Amador Aguiar II, Sá Carvalho, Guilman Amorim, Canoas II, Viana e Linhares (Sudeste); Cana Brava e São Salvador (Centro-Oeste); Governador Ney Braga (Sul); totalizando 2.200 MW. Com isso, a frequência elétrica caiu a valores da ordem de 59 Hz, quando o normal é 60 Hz.
Visando restabelecer a frequência elétrica às suas condições normais, o ONS adotou medidas operativas em conjunto com os agentes distribuidores das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, impactando menos de 5% da carga do Sistema. A partir das 15h45, a situação foi totalmente normalizada.
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Amanhã, dia 20 de janeiro de 2015, às 14h30, no Rio de Janeiro, o ONS se reunirá com os agentes envolvidos para analisar a ocorrência."
ALÍVIO DE CARGA
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O maior corte individual de carga divulgado até o momento ocorreu na Eletropaulo, empresa que distribui energia na Grande São Paulo. O corte na empresa foi de 700 megawatts (MW) ou 10 por cento de sua demanda. Nem todas as distribuidoras informaram o volume de carga de energia afetado.
Na capital paulista, as operações da Linha Amarela do metrô foram atingidas por problema na alimentação de energia pouco depois das 14h30, que causou parada de trem entre as estações Luz e República, obrigando os passageiros a descerem de trens na própria via para chegarem à estação. A linha é utilizada por cerca de 700 mil pessoas diariamente.
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O corte seletivo de carga ocorreu dentro do denominado Esquema Regional de Alívio de Carga (Erac), sistema de proteção coordenado pelo ONS que determina às concessionárias de energia elétrica cortes em estágio, com o objetivo de preservar o fornecimento do sistema, informou a CPFL Energia.
As distribuidoras gradualmente restabeleceram o fornecimento de energia em áreas atingidas pelos cortes, que não teriam alcançado locais prioritários como hospitais e indústrias, disseram algumas das concessionárias de eletricidade.
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Houve corte total de 800 MW em áreas de concessão da CPFL no interior de São Paulo e no Rio Grande do Sul, de 320 MW na área da Copel (PR), de 500 MW na Light (RJ), 185 MW na Cemat (MT), 39 MW na Enersul (MS), 113 MW na CEB (DF), 150 MW na Celesc (SC), entre outras áreas.
MERCADO ACIONÁRIO
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As ações de empresas elétricas aceleraram a queda na Bovespa no fim da tarde, após as primeiras notícias sobre o corte de energia.
O índice que reúne papéis do setor IEE recuou 4,61%, aos 25.314 pontos, terminando o pregão perto da mínima do dia, enquanto o Ibovespa fechou em queda de 2,6%.
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Entre as companhias, Cemig, Light e CPFL caíram entre 6,4% e 7,3%.