Por bruno.dutra

Rio - Para percorrer, sem trânsito, os 20 quilômetros que separam a sua casa, em Guarulhos, do trabalho, no bairro de Pinheiros, São Paulo, o servidor público Carlos de Souza, de 51 anos, precisa estar de pé antes das 6h. Para ele, que utiliza o carro como meio de locomoção, o momento mais crítico, no entanto, é a volta. “Em 40 minutos no mínimo eu chego ao trabalho. Mas, na volta para casa, a cada meia hora que saio depois das 16h30 somo uma hora a mais no tempo de deslocamento”, conta.

Assim como Carlos, 7,4 milhões de pessoas se deslocam diariamente de um município para o outro por motivos de trabalho e/ou estudo no país. Em São Paulo, região que lidera o ranking de deslocamentos, todo dia 1,752 milhão de pessoas se locomovem entre os municípios. O maior fluxo acontece, justamente, na ligação entre São Paulo e Guarulhos, onde Carlos e outros 146,33 mil habitantes precisam viajar de uma cidade para a outra, sendo que a maioria, 118 mil pessoas, parte de Guarulhos com sentido a São Paulo. A ligação Osasco-São Paulo é a segunda maior da região e mobiliza 112,42 mil pessoas.

Os números fazem parte do primeiro estudo Arranjos Populacionais e Concentrações Urbanas do Brasil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que utiliza dados do Censo 2010. A análise traz um raio x dos agrupamentos urbanos com forte integração populacional, devido aos deslocamentos para trabalho e/ou estudo ou proximidade de até 3 quilômetros entre as áreas urbanas, e será repetida a cada dez anos, logo após o Censo.

O Rio de Janeiro aparece como a segunda região com mais deslocamentos entre municípios do país, mobilizando 1,073 milhão de pessoas. A integração mais intensa não acontece com a capital, e sim entre cidades da Região Metropolitana, especialmente, Niterói e São Gonçalo, que mobiliza diariamente 120,3 mil pessoas.

Moradora de São Gonçalo, Naiara Terra, de 27 anos, leva em média 1 hora e 30 minutos para ir de ônibus até o trabalho, em Niterói. A jovem, formada em Administração, também escolheu a cidade para se especializar. Lá, ela completa o curso de pós-graduação.

“Sem dúvida as melhores oportunidades de trabalho, em termos salariais e de qualificação, concentram-se em Niterói ou no Rio de Janeiro. Mas, por conta da distância, optei por procurar emprego em Niterói”, diz Naiara, que demorava, em média, duas horas no trânsito para chegar em seu antigo trabalho, no Rio de Janeiro.

Naiara e outros 109,49 mil se deslocam diariamente de São Gonçalo para Niterói. Desse total, 79,8% é motivado por compromissos de trabalho, 15,6% por estudo, e outros 4,5% para ambos.
Segundo o IBGE, o maior fluxo de deslocamentos no Brasil é motivado pelo trabalho. No entanto, o Rio de Janeiro conta com a maior concentração de movimentos diários por estudo de Nível Superior. No Rio, estão cinco dos sete municípios do país onde mais de 30% dos habitantes precisam viajar de uma cidade para a outra a fim de se qualificar. Na média nacional, 29,2% da população se desloca para fazer graduação e 32,6% para especialização de nível superior, como mestrado ou doutorado.

As principais integrações motivadas pelo estudo não acontecem entre a capital fluminense e a periferia, e sim entre municípios vizinhos da Baixada Fluminense, tal como Belford Roxo e Nova Iguaçu. Lá, 23,1 mil pessoas se deslocam diariamente, sendo 60,4% a trabalho e 36% por estudo. Logo em seguida aparece Duque de Caxias-São João de Meriti, onde dos 21,2 mil que viajam de uma cidade para a outra, 61,1% o fazem por trabalho e 35,4% por estudo.

Thiago Freire, de 26 anos, não abre mão do carro para se deslocar de São João de Meriti, onde mora, até o trabalho, no Rio de Janeiro. À noite, o jovem tem como destino Duque de Caxias, onde cursa Publicidade. “Por causa da rotina corrida, não posso contar com o ônibus para chegar no trabalho e na faculdade a tempo. De carro, me programo melhor para sair de casa”, diz o jovem.

Pesquisador da Coordenação de Geografia da Diretoria de Geociências do IBGE, Maurício Gonçalves defende que o novo estudo do instituto tem como missão ajudar no melhor planejamento da infraestrutura urbana dos municípios do país. “Essas novas escalas de análise podem auxiliar no planejamento da mobilidade, educação e comércio de bens e serviços, reforçando e direcionando políticas públicas. Sem falar nas empresas, que podem ter uma melhor noção do tamanho da população que se desloca por determinadas cidades e municípios”, afirma.

Em todo o Brasil, o IBGE identificou 294 arranjos populacionais — municípios integrados entre si e que mobilizam de 5 mil a 20 milhões de habitantes por motivo de trabalho e/ou estudo — formados por 938 municípios e que representam 55,9% da população residente no país em 2010.

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