Por diana.dantas

O governo descartou a possibilidade de colocar em prática importantes reformas, como a trabalhista, antes de aprovar no Congresso as medidas do ajuste fiscal. Ao ser questionada sobre o assunto, ontem, a presidenta Dilma Rousseff avisou que a prioridade do Executivo será o ajuste das contas públicas. Só depois disso o Planalto voltará a discutir temas como a simplificação de impostos e obrigações acessórias de patrões e empregados, disse a presidenta, durante entrevista para entregar entrega de 1.032 unidades habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida em Capanema, no Pará.

“Eu, depois do ajustes, faço várias reformas”, declarou a presidenta, mencionando que a condição para o país voltar a crescer é ajustar as contas públicas. “Você tem que adequar a política econômica e toda a sua ação às mudanças da realidade, e estamos fazendo isso”, acrescentou. Dilma reforçou que o governo pretende implementar “várias reformas”, mas não para agora. “Antes dos ajustes, eu não farei”, frisou.

A prioridade do governo, deixou claro a chefe do Executivo, é centrar esforços para conseguir votos suficientes para aprovar o ajuste fiscal no Congresso, uma missão que se torna a cada dia mais difícil, tendo em vista as repercussões negativas sobre possíveis estranhamentos entre o Planalto e membros da equipe econômica.

Não por outro motivo, Dilma tratou de afastar, também ontem, quaisquer polêmicas em torno de um possível racha na relação pessoal com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que durante o fim de semana divulgou nota oficial alegando ter sido mal interpretado quando declarou que a chefe do Executivo possui um desejo “genuíno” de “acertar as coisas”, embora nem sempre “da maneira mais efetiva”. Ao ser questionada sobre o assunto, Dilma optou por colocar panos quentes na controvérsia e disse acreditar que Levy, de fato, foi mal interpretado quando proferiu a frase, de forma reservada, a alunos da universidade de Chicago, nos Estados Unidos, no início da semana passada.
“Não tem por que criar maiores complicações por isso”, disse a presidenta. “Ele (Levy) já explicou isso exaustivamente. Ele ficou bastante triste com isso e me explicou. Tenho clareza de que ele foi mal interpretado”, declarou.

Parlamentares da base aliada ouvidos pelo Brasil Econômico disseram que a declaração de Dilma foi combinada entre os demais ministros, como forma de esfriar o tom de mais uma polêmica entre o Planalto e a Fazenda. O maior risco, disseram as fontes, é que declarações de Levy possam ser usadas justamente para enfraquecer o governo num momento em que a base terá de centrar esforços para conseguir aprovar o ajuste fiscal no Congresso Nacional.

O episódio, acreditam aliados, poderá servir como munição aos ataques da oposição ao governo hoje, durante audiência pública de Levy com senadores da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) no Senado. Em contato com a reportagem, o presidente da comissão, senador Delcídio do Amaral (PT-MS), lamentou a frase do ministro, a quem também considera ter sido mal interpretado, e avaliou que a polêmica poderá prejudicar o debate das medidas econômicas, em um momento em que o país precisa “urgentemente” encontrar soluções para poder vencer a atual situação de dificuldade.

“Acho que esse embate, caso venha a ser explorado pela oposição, em nada ajudará o país neste momento”, disse Delcídio.

Para conseguir desviar o foco dos ataques políticos, Levy deverá apostar numa postura mais propositiva, mencionando projetos e áreas as quais o governo pretende priorizar este ano para reaquecer a economia, dizem fontes governistas. O ministro já encomendou estudos junto a técnicos da Fazenda e do Planejamento, que separaram uma série de áreas em que o governo deverá lançar medidas de recuperação, sempre buscando a parceria com o setor privado.
“O que o governo está fazendo é mostrar que os planos para a recuperação do país não se resumem apenas ao ajuste fiscal, mas que há uma saída importante, seja via Parcerias Público Privadas (PPPs), seja via concessões de empreendimentos, nos moldes das obras de revitalização de aeroportos”, frisou uma fonte, que pediu anonimato. <MC2>com ABr e Reuters

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