Por monica.lima

Como no saudoso programa humorístico “Balança mas não cai”, uma das principas vias expressas do Rio de Janeiro também tem seu primo rico e seu primo pobre. Administrados pela Prefeitura do Rio desde 2007 (antes, a responsabilidade era do governo do estado), os 21 quilômetros da Linha Vermelha, que corta a capital e duas cidades da Baixada Fluminense, estão divididos em realidades opostas. Enquanto o lado carioca é razoavelmente conservado, o trecho restante — cerca de dois terços do total — parece não ter as mesmas prioridades.

O Observatório da Mobilidade percorreu toda a extensão da Linha Vermelha, de São Cristóvão, bairro do Rio que abrigou a Família Imperial no Brasil, até São João de Meriti, cidade da Baixada Fluminense habitada majoritariamente por população de classe média baixa. <MC0>A via expressa é o principal acesso ao Aeroporto Internacional do Galeão e conecta a região central do Rio à Via Dutra (Rio - São Paulo). Mais de 100 mil veículos particulares e de transporte público passam por ela diariamente.

Até a altura do Galeão, no lado carioca, a pavimentação é lisa; e a sinalização do asfalto e as defensas metálicas laterais (guard-rails) estão intactas. No trecho da Cidade Maravilhosa, também não se vê lixo nas canaletas que escoam a água da chuva na pista. Uma das exceções de descuido nesse trecho são grades de proteção quebradas em área ambiental do aeroporto.

Já os motoristas que seguem dali até a Dutra precisam enfrentar buracos e desníveis no asfalto, trechos sem guard-rails ou com o equipamento quebrado. Os montes de lixo nas margens da via e a má conservação das grades que separam a Linha Vermelha das casas do entorno também revelam a diferença de tratamento. No Complexo de Favelas da Maré (no Rio), por exemplo, barreiras acústicas foram instaladas em 2010, com a justificativa de que serviriam para proteger os moradores do barulho dos carros e dos atropelamento — a Prefeitura foi acusada de tentar esconder a comunidade carente da vista dos turistas.

A Secretaria Municipal de Conservação afirmou, em nota, que “executa semanalmente serviços de manutenção em todos os trechos da Linha Vermelha” e negou que haja diferença de atendimento em qualquer trecho. De acordo com o órgão, equipes realizam operações tapa-buraco quando necessário: “Nos últimos três meses, foram executados serviços de recuperação asfáltica em trechos na altura de São João de Meriti, do Complexo da Maré e nas proximidades do Viaduto de Caxias (outro município da Baixada cortado pela Linha Vermelha) nos dois sentidos da via. Foram utilizadas mais de 100 toneladas de asfalto”.

A pasta informou que a Comlurb (empresa responsável pela coleta de lixo no Rio)também limpa e desobstrui canaletas e roçadas da via semanalmente. Questionada sobre os valores já gastos nos reparos em cada lado, explicou que os serviços são realizados com o orçamen</MC>t<MC0>o anual, não sendo possível quantificar valores pontuais.

O especialista em Engenharia de Transportes Alexandre Rojas, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, concorda que a Linha Vermelha seja gerida pela Prefeitura do Rio, e não mais pelo estado, como era antes do acordo feito em 2007. Segundo ele, o momento é favorável ao município, beneficiado com verbas para os Jogos Olímpicos de 2016. “A Linha Vermelha é uma via importante para o Rio na Olimpíada. É por onde vai chegar a maioria dos turistas chilenos e argentinos que vêm de carro pela Dutra”, opina o especialista.

Para o motorista Luiz Claudio Lima, 37 anos, que cruza todo dia a Linha Vermelha e percebe diferença na conservação, “falta vontade” para melhorar as condições na Baixada. “No Rio a cobrança é maior, porque atrai turistas”, diz. A concessionária Riogaleão, responsável pelo aeroporto, informou que vai reparar as grades quebradas até a próxima semana.

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