Por lucas.cardoso

Brasília - Era para ser o dia do desembarque. Foram minutos de ruptura. O PMDB precisou de apenas 180 segundos para dizer adeus a 13 anos de parceria em três governos petistas. Sob o comando do senador Romero Jucá (RR) e de um risonho deputado Eduardo Cunha (RJ), os peemedebistas se reuniram nesta terça-feira em Brasília e anunciaram a saída da gestão Dilma. A votação foi por aclamação e sem a participação de vozes dissonantes. 

Principal articulador da decisão, o vice-presidente da República, Michel Temer, não foi ao encontro do partido, mas seu nome foi repetido em coro nos poucos minutos do evento. “Brasil, pra frente, Temer presidente. Fora PT”, bradavam os peemedebistas ao final da reunião.

Por aclamação%2C PMDB confirma desembarque do governoReprodução Tv Câmara

“A partir de hoje nessa reunião histórica, o PMDB se retira da base e ninguém no país está autorizado a exercer qualquer cargo federal em nome do PMDB”, avisou Romero Jucá. Sua ordem, no entanto, não é unanimidade. Três ministros — da Saúde, da Ciência e Tecnologia e da Agricultura — resistem em deixar a Esplanada. Ao todo, o partido tinha sete ministérios. O prazo para entrega dos cargos é 13 de abril.

Membro da ala pró-impeachment, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) prometeu ingressar com representações na Comissão de Ética do partido pedindo a expulsão dos colegas que seguirem no governo.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e filiado ao PMDB, Paulo Skaf, afirmou que a legenda votará unida a favor do afastamento. “O impeachment é inevitável porque 80% da população quer a saída de Dilma”, apostou Skaf. “A Câmara seguirá a vontade do povo.”

MARINA CRITICA

A ex-senadora Marina Silva fez severas críticas à saída do PMDB. “Em apenas três minutos, o PMDB abandonou o governo do qual foi o maior sócio e beneficiário nos últimos 13 anos”, atacou a candidata à presidência em 2014, e ex-ministra do governo Lula.

Marina considera o PMDB tão responsável quanto o PT pela crise política e econômica do país. “A saída é apenas uma jogada política supostamente magistral para tentar se descolar da crise e reinventar-se como solução”, alfinetou a senadora. “Continua o mesmo e velho PMDB tentando renascer das cinzas da fogueira que ele ajudou a atear”, escreveu Marina no Facebook. Ela discorda do impeachment, mas defende nova eleição presidencial após cassação da chapa Dilma e Temer no TSE.

Outros grupos contrários ao impeachment pretendem levar milhares de pessoas às ruas em todo o país amanhã. No Rio, a manifestação pró-Dilma será no final da tarde no Centro.

GOVERNO REAGE

O ministro-chefe do Gabinete da Presidência, Jaques Wagner, afirmou que a saída do PMDB “oferece a Dilma espaço para repactuação do governo”, com outros partidos da base aliada. Wagner afirmou que o governo irá redistribuir rapidamente os cargos. Ele disse ainda que a relação entre Dilma e Temer está agora “politicamente interditada”.  O ministro ironizou a rapidez do encontro dos peemedebistas: “Eu não sei o que o PMDB queria, talvez um título no Guinness Book”.

Barbosa e professor da Uerj defendem governo

A comissão especial do impeachment na Câmara aprovou nesta terça-feira requerimento para ouvir quatro convidados antes da apresentação da defesa da presidente Dilma — o prazo da defesa acaba na próxima segunda-feira, dia 4.

Pelo lado da oposição, serão ouvidos hoje dois autores do pedido de impeachment com base nas “pedaladas fiscais”: os juristas Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal.  Já pelo grupo dos que defendem o governo, participam amanhã o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa (Fazenda), e Ricardo Lodi Ribeiro, professor de Direito Tributário da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

“Todas as decisões tomadas foram amparadas em pareceres técnicos da Fazenda e do Planejamento e estão de acordo com a legislação em vigor, e eu irei explicar o que for perguntado”, adiantou Barbosa.Os governistas também querem levar o advogado-geral da União, ministro José Eduardo Cardozo, quando for apresentada a defesa da presidente Dilma, para fazer o embate “político-jurídico”.


Temer grava vídeo exibido em encontro organizado por Gilmar

Em vídeo exibido nesta terça, em seminário realizado em Portugal, o vice-presidente da República, Michel Temer, assegurou que as instituições do Brasil estão fortes e funcionam normalmente, ao mesmo tempo em que os poderes estão cumprindo suas tarefas.

“Posso dizer com muita tranquilidade que as instituições do país estão funcionando regularmente. Os poderes cumprem suas tarefas. O Judiciário tem presença forte e há que ser saudado por todos que se preocupam com comportamento ético e político”, afirmou Temer. “O Legislativo de igual maneira tem exercido suas funções com muita tranquilidade.”

O vídeo foi exibido no IV Seminário Luso Brasileiro de Direito, que ocorre em Lisboa e é organizado pelo Instituto Brasiliense de Direito Público, da qual o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes é sócio-fundador, e pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

Manifestantes contrários ao impeachment foram até o local do evento e vaiaram o senador José Serra (PSDB-SP) que também participou do encontro. O senador Aécio Neves também foi convidado para o seminário.

Ministros do PMDB

MARCELO CASTRO
(SAÚDE)

É um dos ministros que deve permanecer no cargo, apesar da decisão da executiva do partido. Tem se posicionado publicamente contra o impeachment da presidente Dilma

CELSO PANSERA

(CIÊNCIA
E TECNOLOGIA)

Aliado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, Celso demonstrou disposição em permanecer à frente da pasta. Irá decidir nos próximos dias seu futuro

KATIA ABREU
(AGRICULTURA)

Amiga da presidente Dilma, a ministra está indecisa sobre sua saída do governo. Independentemente de sua permanência ou não, ela promete trabalhar contra o impeachment

HELDER BARBALHO
(SECRETARIA
DOS PORTOS)

Prometeu deixar o governo, mas pediu à direção do partido para não entregar o cargo agora, para que possa concluir projetos em andamento na pasta

EDUARDO BRAGA
(MINAS
E ENERGIA)

É outro que também já avisou à cúpula do PMDB que deixará o cargo. Mas também quer antes terminar projetos em execução no ministério

HENRIQUE EDUARDO ALVES
(TURISMO)

Fiel aliado do vice Michel Temer, Henrique Alves foi o primeiro a desembarcar do governo Dilma Rousseff. Sua demissão saiu publicada nesta terça no Diário Oficial da União



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