Por gabriela.mattos

Brasília - Durante o discurso da presidente afastada Dilma Rousseff, uma senhora de cabelos brancos manteve-se firme ao seu lado. Ao final, entregou-lhe flores, gesto que foi repetido do lado de fora do Planalto. Trata-se da ex-ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres Eleonora Menicucci, ou simplesmente ‘Leo’, como gosta de ser chamada.

Leo é considerada uma das melhores amigas de Dilma. O vínculo entre as duas data da época em que dividiram por um ano a mesma cela, em São Paulo, no período da ditadura.

Eleonora Menicucci, ex-ministra da Secretaria de Políticas para as mulheres, entregou flores a Dilma RousseffMarcello Casal Jr. / Agência Brasil

Em entrevista nesta quinta-feira ao DIA, a professora mineira, de 72 anos e filiada ao PT desde 1980, afirmou que o impeachment é um golpe machista, e explicou o significado da cor branca da roupa usada por ela e por Dilma.

DIA: A senhora, assim como a presidente, foi presa na ditadura. Esteve ao lado dela na luta contra o câncer. O que sente nesse momento que Dilma classificou como a terceira maior dor de sua vida?

Eleonora: Estive presa e fui torturada ao lado da Dilma por um ano, no presídio Tiradentes. Ao ser presa, em 1971, estava com a minha filha de 1 ano e 10 meses no colo, que foi levada comigo para a cadeia, mas logo depois entregue à minha mãe. Antes disso, ameaçaram torturar o meu bebê. Essa mesma tortura psicológica, além da física, se manteve até 1974, quando fui solta. Dividi, sim, essa dor com a Dilma. Divido essa da injustiça e é uma dor muito grande.

Como a senhora avalia o ministério montado por Temer?

Só tem homens, precisa dizer mais? É um golpe machista, sexista e, como tal, só colocaram homens para ministros. Um golpe do capital, patriarcal e sem dúvida das classes altas da burguesia.

O impeachment é totalmente injusto na sua visão?

A Dilma não cometeu crime, que seria a justificativa usada para o impeachment. As mesmas ações que ela fez foram tomadas de forma similar por outros presidentes, como o Lula e o Fernando Henrique. O PMDB entra pela porta dos fundos criando essa coisa esquizofrênica de ter um presidente institucional e outro interino. Tomou o poder assim, sem uso do voto. Tenho certeza que o Senado julgará o mérito e a Dilma irá retornar.

Qual a sua análise para as políticas sociais no governo Temer?

A pior perspectiva possível. É um retrocesso total, pois não tenho esperança em um governo que tem como o lema ‘o foco’. Temer quer focar somente nos 5% mais pobres, esquecendo os outros. É uma política muito equivocada.

Nesse período de afastamento, o que pretende fazer?

Vou voltar a dar aulas na Unifesp, em São Paulo, de onde estou licenciada.

Assim como Dilma, a senhora vestia uma roupa da cor branca. Teve algum significado especial?

Teve sim. Mas a escolha da mesma cor foi coincidência. Escolhi branco porque quero paz no governo que está dividido. A Dilma também gosta muito de andar com a cor branca. A ministra Tereza Campello (ex- ministra de Desenvolvimento Social e Combate à Fome) também vestiu branco.

A senhora entregou flores duas vezes para a presidente. Qual o significado do gesto?

Conheci Dilma em Belo Horizonte, éramos jovens. Nos reencontramos no cárcere. Foi um momento duro, de muita violência e tínhamos determinação. O primeiro buquê foi meu, um ato simbólico de amizade e lealdade. Já na rua, no fim da fala, foi em nome de todos os ministros.

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