Por thiago.antunes

Brasília - Um estudo encomendado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) mostra que a fosfoetanolamina - mais conhecida como pílula do câncer - em doses altas foi capaz de reduzir o tamanho de melanomas em camundongos. O desempenho obtido pelo composto, no entanto, foi inferior ao apresentado pelo quimioterápico ciclosfosfamida, existente no mercado.

Conduzido pelo Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da Universidade Federal do Ceará (NPDM/UFC), de Fortaleza, o trabalho observou a evolução do melanoma, um tipo agressivo de câncer, em 50 camundongos. Cinco tratamentos distintos foram dispensados para cada grupo de dez animais. O primeiro deles recebeu durante 16 dias doses de fosfoetanolamina equivalentes às de 200 miligramas por quilo.

Cápsulas de fosfoetanolamina produzidas desde os anos 90 no Instituto de Química de São Carlos%2C no interior de São PauloCecília Bastos/USP Imagens

Outro grupo recebeu uma dosagem equivalente a 500 miligramas por quilo e o terceiro grupo, com doses altas, de 1 mil miligramas por quilo. Ao fim do período, somente o terceiro grupo apresentou uma redução da massa tumoral. Ela foi equivalente a 64%. O desempenho, no entanto, foi inferior ao apresentado pelo grupo de animais submetido a um tratamento com quimioterápico. Para esse grupo, a redução foi de 93%.

Este é o oitavo estudo sobre o composto encomendado pela pasta com resultados considerados pouco animadores - não haveria por que apostar na nova substância se outra existente é mais eficiente. Há dois meses, integrantes do governo que acompanham o resultado dos trabalhos chegaram a sugerir a interrupção das pesquisas, em virtude dos resultados negativos obtidos. Questionado ontem, o MCTIC informou que as pesquisas devem continuar.

De acordo com a pasta, estão em curso pesquisas pré-clínicas e a previsão é de que ainda neste semestre tenha início um estudo com voluntários saudáveis. O objetivo é avaliar a segurança da fosfoetanolamina e o comportamento da droga no organismo humano

Colaboração

Os projetos para avaliar a ação da fosfoetanolamina foram anunciados no ano passado, numa iniciativa em colaboração com o Ministério da Saúde. A previsão era de que fossem investidos R$ 10 milhões na iniciativa.

Além do relatório sobre a ação da fosfoetanolamina em camundongos, o MCTIC divulgou resultados de estudos sobre a fosfoetanolamina feitos pelo Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos (CIEnP), de Florianópolis. A pesquisa, no entanto, não tratava da eficácia da substância.

A fosfoetanolamina era distribuída gratuitamente por uma laboratório do Instituto de Química de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP). Há dois anos, o remédio parou de ser entregue, depois de uma determinação da própria universidade para que produtos experimentais não fossem distribuídos à população.

Diante da interrupção, um grupo de 26 deputados apresentou um projeto para liberar o uso do produto, mesmo sem uma avaliação sobre sua eficácia e segurança. A tramitação foi relâmpago. Ele foi aprovado na Câmara em 8 de março e, duas semanas depois, já havia passado no Senado. O projeto define a fosfoetanolamina como produto de relevância pública e autoriza a produção, importação, prescrição, posse ou uso da substância, independentemente de registro sanitário.

O texto prevê tal prerrogativa até que estudos sobre a substância sejam concluídos. Mesmo com parecer negativo do Ministério da Saúde, a presidente afastada, Dilma Rousseff, à época apreensiva com os rumos do pedido de abertura de processo de impeachment, decidiu sancionar a lei, liberando a substância.

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