Por thiago.antunes

Brasília - Dois dos principais personagens do julgamento do impeachment foram às lágrimas nesta terça-feira, na última sessão do julgamento no Senado. A advogada de acusação Janaina Paschoal e o ex-ministro José Eduardo Cardozo, advogado de defesa de Dilma Rousseff, deram, com diferentes argumentos, um tom emocional ao processo na véspera da votação final.

Ao fazer sua última participação no julgamento, Janaina pediu desculpas à presidente afastada pelo "sofrimento" que a causou. Ela justificou sua atuação pelo impeachment sob o argumento de que "precisava fazer alguma coisa pelo País".

Segundo a advogada - uma das autoras do pedido de impedimento de Dilma -, "foi Deus" que fez com que as pessoas percebessem o que estava acontecendo no Brasil e "tivessem coragem para se levantar e fazer algo a respeito".

Foi no fim do seu discurso, porém, que Janaína se referiu à presidente afastada e chorou. "Eu finalizo pedindo desculpas, não por ter feito o que era devido, porque eu não podia me omitir diante de tudo isso. Eu peço desculpas porque eu sei que, muito embora esse não fosse o meu objetivo, eu lhe causei sofrimento. Mas eu peço que ela um dia entenda que eu fiz isso pensando também nos netos dela", afirmou a advogada.

'Golpista'

A declaração gerou reação de aliados de Dilma. "Está mais para golpista do que para acusação", disse, do fundo do plenário, o deputado José Guimarães (PT-CE), ex-líder do governo Dilma.

O líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), pediu ao presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski - que preside o julgamento -, que o petista fosse retirado do plenário se não se comportasse.

"Estimulam os seus sequazes a se dirigirem contra nós nas ruas. Eu não tenho medo de você nem de vocês, e eu peço ao senhor presidente que, se esse senhor não vier a se comportar adequadamente, que o faça retirar do plenário pela Polícia do Senado Federal, que é isso que ele merece", disse Nunes.

Netos

O ambiente se acalmou, mas os termos usados por Janaina também incomodaram Cardozo. Depois de deixar a tribuna, em uma declaração a jornalistas, o ex-ministro também chorou. "As palavras da acusação foram muito injustas. Para quem conhece a presidente Dilma, pedir a condenação para defender os seus netos, foi algo que me atingiu muito fortemente", disse.

Cardozo justificou a emoção afirmando que o impeachment de Dilma era uma injustiça. "Aquele que perde a capacidade de se indignar diante da injustiça perdeu a sua humanidade."

Ao se pronunciar da tribuna, Cardozo afirmou que a condenação de Dilma será uma "pena de morte política" e questionou os senadores se eles conseguiriam "dormir com a consciência tranquila" depois disso.

O ex-ministro voltou a defender a honra da presidente, frisando que ela não cometeu nenhuma irregularidade e que jamais deu nenhuma ordem para que alguém infringisse a lei ou desviasse dinheiro público. "Se há uma pessoa que é absolutamente correta e íntegra no sistema político brasileiro corrompido até as medulas é Dilma Rousseff. Ela nunca tolerou nenhum ato de corrupção, nenhum ato de desvio ou a suspeita", disse.

Com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio da Alvorada, Dilma telefonou para seu advogado, José Eduardo Cardozo, e elogiou a última defesa que ele fez, da tribuna do Senado. Ela agradeceu o empenho de Cardozo, que foi ministro da Justiça e titular da Advocacia-Geral da União em seu governo.

"Chorou, hein?", disse Dilma, que na segunda-feira, 29, também ficou emocionada ao lembrar a perseguição política sofrida na época da ditadura, quando foi presa e torturada.

Após a ligação de Dilma, ele ficou novamente com os olhos cheios de lágrimas. "Faço essa defesa com muita tristeza porque sei da inocência dela", afirmou Cardozo. "Mas muitos me dizem: 'Você pode mostrar a prova que quiser, porque este é um jogo de cartas marcadas.'"

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