Por gabriela.mattos

Rio - Tirar Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da Câmara dos Deputados pode ser, além de um combate à corrupção, uma precaução política. A menos de três semanas das eleições municipais, os quatro candidatos à prefeitura do Rio que são deputados federais vão votar a favor da saída do peemedebista na sessão que será presidida pelo carioca Rodrigo Maia, do DEM, hoje à noite.

Dois deles — Alessandro Molon (Rede) e Jandira Feghali (PCdoB) — são opositores de Cunha desde o início, enquanto Indio da Costa (PSD) e Pedro Paulo (PMDB) integram partidos que tiveram rachas depois de a pressão sobre o deputado aumentar.

O PSD de Indio da Costa faz parte do chamado "centrão", grupo que também é formado, majoritariamente, por PRB (de Marcelo Crivella), PP, PTB e PR, que sempre estiveram ao lado de Cunha. Recentemente, com a cobrança da opinião pública, a maior parte dos parlamentares do PSD deixou de apoiar o deputado e declarou voto pró-cassação.

Líder da Rede, partido responsável, ao lado do Psol, pela representação no Conselho de Ética que motivou o processo votado hoje, Alessandro Molon é um dos críticos mais ferrenhos ao ex-presidente da CasaDivulgação

No entanto, Indio alegou que espera pela votação de hoje há muito tempo. "Quando fui relator do Ficha Limpa, em 2010, apenas dois deputados votaram contra: Eduardo Cunha e Leonardo Picciani (PMDB-RJ). Tinha um motivo, né?", questionou. Cunha, já afastado, chegou a apoiar o candidato Rógerio Rosso, do PSD, na votação que elegeu Rodrigo Maia como novo presidente da Casa.

Pedro Paulo, do mesmo PMDB carioca de Cunha, estava licenciado do cargo em função da campanha eleitoral e havia anunciado que se ausentaria da sessão, o que favoreceria o correligionário. Contudo, com a pressão da sociedade e de colegas políticos, decidiu ir a Brasília para se juntar aos que defendem a perda do mandato.

Líder da Rede, partido responsável, ao lado do Psol, pela representação no Conselho de Ética que motivou o processo votado hoje, Alessandro Molon é um dos críticos mais ferrenhos ao ex-presidente da Casa. "Comecei essa luta quando parecia impossível, ano passado. Manter o Eduardo Cunha é incompatível com a democracia. Vamos livrar o Brasil de um dos piores representantes de sua história", disse.

Sobre a debandada do PSD e o voto de Pedro Paulo, Molon declarou: "Não querem ficar mal na foto diante da certeza da cassação. Mas que bom que vão votar a favor. Lamento pelos que apoiam."

Jandira Feghali, outra opositora antiga, classificou a votação de hoje como um ato de respeito à sociedade. E brincou com a decisão de Pedro Paulo, que, em abril, defendeu o impeachment de Dilma Rousseff, aliada da deputada, de quem também era apoiador. "Ele sempre trai pessoas aliadas, mas pelo menos desta vez vai votar pelo bem."

As siglas que concorrem à prefeitura e têm representantes em Brasília, mas cujo candidato não é deputado federal, também observam atentamente a interferência que um voto pró-Cunha pode causar na eleição municipal. Tanto que o PRB, de Crivella, até então fiel escudeiro do ex-líder da Câmara, deve votar pela perda do mandato.

O Psol, de Marcelo Freixo, sempre foi contra Cunha e é unânime na decisão de cassar o deputado. O PSDB, de Carlos Osorio, apesar de pertencer à base aliada do governo federal peemedebista, também deve ir todo contra Cunha. Já o PSC, de Flávio Bolsonaro, não se posicionou sobre o assunto. Os partidos Novo, de Carmen Migueles, PSTU, de Cyro Garcia, e PCO, de Thelma Bastos, não têm representantes na Câmara.

Reportagem do estagiário Caio Sartori

Você pode gostar