Rio - O assassinato da vereadora Marielle Franco não foi um caso isolado. "Defender direitos humanos no Brasil é uma atividade de risco", diz a coordenadora de pesquisas da Anistia Internacional Renata Neder.
Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, ela aponta os riscos desse tipo de crime à democracia e a importância de descobrir não só os executores, mas os mandantes para desmontar o esquema de violência contra defensores dos direitos humanos.
Qual a situação desses crimes no País? Por que ainda ocorrem?
Defender direitos humanos no Brasil é uma atividade de risco. Sobre Marielle, antes de ser vereadora, ela era uma defensora de direitos humanos. Construiu sua trajetória na defesa de mulheres negras, dos direitos de moradores da favela à segurança pública.
Os crimes são investigados?
Esse é outro problema do Brasil. Mesmo quando o caso tem muita repercussão leva anos para ser julgado. E no caso de haver prisão, em geral é dos executores, de quem aperta o gatilho, mas não do mandante, o que, na prática, significa que o esquema de violência contra determinados grupos não é desmontado.
A morte de uma vereadora foi apontada como atentado à democracia. A senhora concorda?
Quando um defensor de direitos humanos é assassinado, o crime é também um ataque ao Estado de Direito. É como se dissessem que não aceitam a resolução de conflitos de forma legal, não aceitam as regras do jogo democrático. No caso dela, que ocupava cargo público, é um desafio também às instituições. Se o Estado não der uma resposta à altura, abre-se uma porta muito perigosa para um aumento generalizado da violência.
A morte de Marielle suscitou comentários acusando-a de "defensora de bandidos". Por que essa noção tão mal interpretada?
Em geral, pessoas que dizem isso não sabem o que são direitos humanos. E essa incompreensão leva ao estigma de que defender direitos humanos é defender direitos de bandidos. Os direitos à moradia, educação e alimentação são direitos humanos. Precisamos romper esse ciclo com informação qualificada.
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