Brasília - O presidente Michel Temer disse que o banditismo reage à intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. A declaração foi feita nesta quarta-feira na abertura da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão. O presidente afirmou que fará, à noite, uma reunião de trabalho na capital fluminense.
Temer fez um balanço de outras ações do governo federal e afirmou que a intervenção não foi um gesto só de ousadia, mas de "necessidade plena". Ele também afirmou entender a dificuldade de se votar uma reforma da Previdência num ano eleitoral, como era planejado pelo Palácio do Planalto, mas foi postergado por causa da vedação de se alterar as regras constitucionais na vigência da intervenção.
"Tivemos gestos de muita coragem e que não foram levados adiante em muitos governos. É ano eleitoral, complicadíssimo, e entendo que seja mais difícil votar a reforma da Previdência", afirmou o presidente.
O presidente afirmou que a intervenção no Rio "dá conforto e segurança" para moradores de morros e citou as seguidas operações no morro da Vila Kennedy, adotada como modelo pelas autoridades públicas, mas que, na verdade, é uma favela plana. Temer também disse que a intervenção causa impacto no banditismo e provoca reações. "O crime hoje é organizado, com regras próprias e ultrapassa fronteiras". Ele não citou a execução da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, que acompanhava. O crime completa uma semana hoje.
"A intervenção não resolve problema em dez dias, ou um mês, por isso, decretei até o fim do ano", disse o emedebista. "Concluímos que, se as coisas no Rio desandassem, seria péssimo exemplo a outros Estados."
O Gabinete de Intervenção Federal, comandando pelo interventor general Walter Souza Braga Netto, concluiu que são necessários R$ 3,1 bilhões para sanar problemas na área de segurança do Rio. Temer, que destinará R$ 1 bilhão ao interventor, negou que haja dissonância entre as cifras.
"O que há é consonância entre o que o senhor interventor solicitou e o que o governo federal está fazendo", disse o presidente. Ele citou que o passivo detectado pelo general Braga Netto é formado, principalmente, por atrasos em pagamentos de alimentação, materiais e salários, despesas que não podem ser quitadas pela União sob pena de crime de responsabilidade. "Para isso há verbas estaduais", afirmou Temer. "Mais à noite vou ao Rio de Janeiro para uma reunião de trabalho já com essa verba ajustada e aprovada de R$ 1 bilhão, sendo certo que, se necessário for, alocaremos outras verbas para essa matéria."
Temer abriu uma reunião esvaziada do Conselhão. Havia mais de uma dezena de lugares na mesa desocupados. Nem o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, um dos que discursará depois do presidente, havia chegado no início do encontro. Ele citou o aporte de R$ 2 bilhões a municípios inadimplentes e a repactuação da dívida dos Estados. A medida deu "respiro grande" aos Estados, conforme o presidente.
O presidente ainda citou a reversão da tendência de encolhimento da economia e medidas que levaram à queda da inflação e dos juros. Ele afirmou que nem sequer o déficit público de R$ 170 bilhões era conhecido e a aprovação do teto de gastos. "Leva-se tempo para reduzir o déficit público. Quem sabe daqui a 10 anos estejamos gastando aquilo que se arrecada."
Temer afirmou aos conselheiros que seu governo prioriza o diálogo e que "cerca de 65% do proposto pelo conselho foi cumprido e 27% está em fase de recomendação".
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