Prédios são evacuados na região da Avenida Paulista, em São Paulo.Reprodução/Twitter
Por ESTADÃO CONTEÚDO
Publicado 02/04/2018 11:42 | Atualizado 02/04/2018 22:29

Brasília - O tremor de terra que ocorreu na Bolívia na manhã desta segunda-feira, por volta das 10h40, foi sentido em prédios mais altos de São Paulo e de Brasília e em várias outras cidades do Sudeste, do Centro-Oeste e na região Sul do Brasil. O sismo, de magnitude intermediária, de 6,8 pontos na escala Richter, ocorreu a 555 km de profundidade, de acordo com o Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP).

Diversas pessoas que trabalham em prédios altos da Avenida Paulista, um dos pontos mais elevados de São Paulo, puderam sentir a vibração das ondas emitidas pelo tremor que ocorreu a milhares de km de distância. Ele abalou uma área localizada a 209 km de Tarija, noroeste da Bolívia, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS).

Na Avenida Paulista, dezenas de pessoas saíram dos prédios e se aglomeraram nas ruas. O prédio da Petrobras, no número 901 da avenida, foi evacuado após os funcionários que trabalham do 11º ao 19º andares sentirem os tremores. Segundo o segurança Jackson Carlos da Conceição, as pessoas relataram que o tremor durou cerca de 30 segundos.

"Eles viram as portas e objetos balançarem, disseram ter sentido como se estivessem tontos", contou.

Por precaução, todos os andares do prédio foram esvaziados. Cerca de 400 pessoas trabalham no local.

Por volta das 11h, o prédio do Ministério Público de São Paulo, que fica na Rua Riachuelo, no Centro, também foi esvaziado. Muitas pessoas permaneceram nas calçadas aguardando permissão para retornarem ao edifício.

O editor de fotografia Marcelo Ferrelli, de 40 anos, estava no 12º andar do prédio da Gazeta quando sentiu o tremor. "Eu estava em pé e deu uma vertigem, uma sensação de baixar a pressão. Todo mundo começou a perguntar e a gente reparou os fios da TV balançando. Tremeu, diminuiu e tremeu de novo e outra vez. Foram três vezes em um período de cinco minutos."

Ele conta que viu prédios da região sendo evacuados. "Trabalho aqui desde 1999 e é a segunda vez que consigo sentir (o efeito de um terremoto). Já teve um tremor por causa de um terremoto no Chile e a gente sentiu aqui, mas este foi mais forte", contou

Por causa dessa experiência, Ferrelli passou a seguir perfis de sismologia nas redes sociais. "Recebi informações rápido e soube que era um problema na Bolívia."

Quem estava no Conjunto Nacional, também na Paulista, sentiu o impacto do terremoto. "Estava conversando com um colega na nossa sala que fica no Conjunto Nacional e ficamos intrigados. As lâmpadas começaram a balançar todas juntas, no mesmo ritmo. Não tínhamos ideia do que era e fomos olhar nas outras salas, mas no escritório ninguém mais percebeu", contou Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica.

Nas redes sociais também houve relato de tremores em Santos, no litoral paulista, e no Distrito Federal, em Brasília.

Terremoto profundo

Técnico em sismologia do Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP), José Roberto Barbosa explica que o terremoto registrado na Bolívia foi considerado profundo e, quando isso ocorre, ondas chegam à superfície e se propagam.

"São ondas que caminham no sentido transversal, acabam encontrando as estruturas dos prédios e mexendo. As pessoas acabam sentindo essa oscilação. Em geral, sentem um ligeiro enjoo, a vibração, podem ver um lustre balançando e isso é suficiente para elas saírem correndo, porque não estão habituadas a esse tipo de situação", explicou.

Segundo Barbosa, é possível que, em uma mesma região, pessoas que estão em um prédio sintam o tremor e outras, em um imóvel próximo, não tenham a mesma sensação. "Tem prédios que estão fixados em rochas mais duras e outros em rochas sedimentares, que amplificam um pouco e as pessoas percebem mais facilmente. Em outros, fixados em basalto, granito, as ondas passam e quase não são percebidas."

O técnico informa que, de um modo geral, esse tipo de tremor não abala a estrutura dos prédios. "Tivemos dezenas de casos de ocorrências desse tipo, que as pessoas chamam de reflexo de terremoto e, em geral, não causa danos em prédios."

São João de Meriti

No Rio, o único registro de atividade sísmica ficou por conta do município de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, segundo informações da Rede Sismográfica Brasileira.

Precisamente às 10h41, Ninno Martins, morador da Baixada, registrou o ocorrido por meio da plataforma 'Sentiu aí?', da Universidade de São Paulo (USP). "Foi sentido como se um caminhão passasse pela rua em alta velocidade, porém sem o ruído do motor, somente o impacto nos pés, algo em torno de dois ou três segundos", contou Ninno.

O idealizador da plataforma, o sismólogo Bruno Collaço, do Instituto de Energia e Ambiente da USP, explicou que os tremores são reflexo de eventos comuns. "Tremores nos Andes são registrados todos os dias e a imensa maioria deles não é sentida no Brasil, mesmo tendo magnitudes altas", explicou o especialista.

Perguntado sobre a possibilidade de demais ocorrências sentidas no Brasil, Collaço disse que é possível: "Em relação ao tremor da Bolívia ocorrido hoje, podemos esperar réplicas de magnitudes menores nas próximas semanas, mas que dificilmente serão sentidas no Brasil. Mas não é impossível".

Esse é o segundo tremor registrado no Estado do Rio em 2018. O primeiro foi há dois meses, em Cantagalo, Região Serrana. Para quem se acostumou a valorizar um país sem desastres naturais, o leve balanço assustou bastante.

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