Rosa Weber, entre os ministros Fachin e Dias Tofolli: ministra alegou que mudança na interpretação do STF em tão pouco tempo (a decisão atual é de 2016) não se justificavaNelson Jr. / SCO / STF
Por ADRIANA CRUZ
Publicado 04/04/2018 23:06 | Atualizado 05/04/2018 06:37

Rio - A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva agora é só uma questão de tempo. O voto da presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, selou, já na madrugada da quinta-feira, o placar de 6 a 5 contra a concessão do habeas corpus do ex-presidente. "Esse entendimento prevaleceu no julgamento em 2016; não vejo nenhuma razão para mudarmos agora", defendeu a ministra.

A posição de Cármen, no entanto, já era esperada. O momento decisivo da sessão foi o voto da ministra Rosa Weber, que era considerada o fiel da balança e se posicionou a favor da manutenção da prisão em segunda instância, levou desânimo aos apoiadores do petista. Juristas consultados pelo DIA consideraram a decisão virtualmente irreversível.

Lula foi condenado pelo Tribunal Regional Federal 4 (TRF-4) a 12 anos e um mês por lavagem de dinheiro e corrupção passiva no processo do triplex no Guarujá. O petista tem direito a um recurso naquela Corte, além de também poder recorrer novamente ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao próprio STF.

"Não há como reverter o resultado. O Supremo colocou um pá de cal e Lula tende a ser preso. É uma questão de tempo", explicou o professor Michael Mohallem, da FGV Direito Rio.

Rosa Weber, em seu voto decisivo, defendeu que não há razão para mudar a decisão do Supremo de 2016 que permitiu a prisão do réu após condenação sem segunda instância, sem o trânsito em julgado, ou seja, quando ainda há possibilidade de recurso. "Espera-se que o Tribunal resolva questões da mesma maneira que foi no passado. Nessa linha de raciocínio, a tese foi consagrada em 2016 por esse plenário, com repercussão geral. Não tem como reputar ilegal, abusivo e teratológica a decisão do STJ", justificou, sob protestos veementes do ministro Marco Aurélio de Mello, que disparou: "Venceu a estratégia". O magistrado se referia o fato das duas Ações Declaratórias de Constitucionalidade, que questionam a validade da prisão em segunda instância, não terem sido pautadas pela presidente Carmen Lúcia.

DE OLHO NO TRF-4

O processo sobre o triplex do TRF-4, Corte de segunda instância, ainda não terminou. No dia 26, os magistrados da 8ª Turma rejeitaram os embargos de declaração contra a condenação de Lula. A decisão foi publicada no dia seguinte. O prazo para a manifestação da defesa se esgota apenas na sexta-feira. Em regra, o TRF-4 costuma rejeitar reiterados recursos. O que deve acontecer no caso de Lula.

Após nova rejeição no TRF-4, que é a tendência, Lula ainda pode questionar a prisão no Supremo Tribunal de Justiça e no Supremo. "Com o trânsito em julgado no TRF-4, no entanto, haverá a prisão", disse Jerson Carneiro, professor de Direito Constitucional do Ibmec.

Especialista critica decisão
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Gilmar disparou ataques; Barroso lembrou Edmundo
O julgamento começou por volta das 14h. O primeiro a votar foi o ministro Edson Fachin, relator do habeas corpus, que, como esperado, votou pela prisão de Lula. Em seguida, Gilmar Mendes decidiu a favor do ex-presidente. Alexandre de Moraes e Luís Barroso seguiram Fachin. Mas a posição mais esperada era a de Rosa Weber.
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Rosa defendeu a posição de manter a prisão antes do trânsito em julgado não fere o princípio da presunção de inocência. "Os tribunais têm que manter as suas jurisprudências firmes e coerentes", declarou. O voto caiu como uma bomba para os ministros Marco Aurélio Mello, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski. Enquanto, Barroso lembrou de criminosos que usaram recursos para escapar da prisão e da punição por causa da prescrição (perda do prazo do estado para punir o réu). Segundo ele, o STJ e o STF deixaram prescrever 1.116 casos.
Sem dizer o nome do ex-jogador do Vasco Edmundo, Barroso ressaltou que em 1995, em um acidente de trânsito, ele matou três pessoas. "Em 1999, foi condenado a quatro anos e meio de prisão. Os advogados entraram com 21 recursos no STJ e outros no Supremo. Em 2011, foi declarada a prescrição da pena. Mas as famílias das vítimas podem assistir o ex-jogador comentar jogos de futebol. Há impunidade mesmo", ressaltou. Já Mendes, mesmo votando a favor de Lula, atacou o PT, partido do ex-presidente, a imprensa e o Judiciário. Disse ser contra os feriados do Judiciário, férias em dobro para magistrados e o auxílio-moradia.
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