Aécio chegou a ser afastado do cargo por decisão do STF, a pedido da Procuradoria-Geral da República, mas o Senado o colocou de volta no exercício do mandato Marcelo Camargo/Agência Brasil
Por O Dia
Publicado 17/04/2018 23:06

Brasília - O senador do PSDB Marco Rocha deu o tom do temor que tomou conta de integrantes do partido após a decisão do Supremo Tribunal Federal que tornou réu o também senador Aécio Neves. "Do jeito que estão colocando, parece que se Lula está preso, tem que prender todo mundo. Se tem do PT, tem que ter do PSDB também".

O candidato tucano que conquistou 51 milhões de votos, perdendo por pouco a última eleição presidencial, desceu mais um degrau na sua carreira política ontem. E por um placar acachapante. Os cinco ministros da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal, onde o tucano tem poucos amigos, consideraram que o inquérito contra ele tem provas suficientes de prática de corrupção. Com isso, o senador se tornou réu de ação penal na Corte. Quatro dos ministros consideraram que Aécio tentou obstruir a Justiça em ações da Lava Jato e ele vai responder também por esse crime. Com isso, ele se torna o primeiro tucano nessa condição em quatro anos de Operação comandada por Sérgio Moro. As penas máximas dos dois crimes, somadas, chegam a 20 anos.

Aécio é acusado de ter recebido R$ 2 milhões do empresário Joesley Batista, da JBS, em troca de favorecer os interesses da empresa em sua atuação parlamentar. O senador admite que recebeu os recursos, mas diz tratar-se de um empréstimo "Não houve dinheiro público envolvido, ninguém foi lesado nessa operação", reafirmou o tucano ontem.

"No mundo de negócios lícitos, empréstimos se fazem por transferência bancária ou no máximo por cheque", comentou em seu voto o ministro Luís Roberto Barroso. "Nos dias de hoje ninguém sai por aí transportando pela estrada malas de dinheiro".

Em setembro do ano passado, a mesma Turma do Supremo que tornou Aécio réu ontem o afastou do cargo e ordenou que ele permanecesse em casa à noite. Mas no mês seguinte, os senadores, por 44 votos a 26, devolveram a Aécio o mandato. Uma representação contra ele no Conselho de Ética da Casa também foi rejeitada.

O PSDB, por sua vez, manteve Aécio na presidência do partido, ainda que licenciado, até o fim do ano passado. Ontem, o candidato do partido à presidência, Geraldo Alckmin, disse que a decisão do STF "entristece", mas que não existia Justiça "verde, amarela, vermelha ou azul". Ele afirmou ainda que o senador é quem decidirá se continua no partido e se vai se candidatar a algum cargo. "Cabe a ele definir o que fazer e como vai fazer".

Janot comenta

O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, autor da denúncia contra o senador, usou o Twitter para comentar a decisão do STF. "O discurso vazio que tentava invalidar tudo isso virou sal na água", escreveu.

A defesa tenta invalidar as provas obtidas na ação controlada da Polícia Federal que originou a investigação, apontando "graves irregularidades" no processo.

O primeiro réu do PSDB na Lava Jato

Aécio Neves é o primeiro tucano a virar réu em ações ligadas à Lava Jato, apesar de o PSDB ter 14 investigados na Operação, figurando como o quinto partido com mais citado nos inquéritos.

A PGR acusa o tucano de receber ilicitamente R$ 2 milhões de Joesley, por intermédio do primo Frederico Pacheco de Medeiros e do assessor do aliado Zezé Perrela, Mendherson Souza Lima, que receberam o dinheiro em malas e, por isso, também são réus na ação. A irmã e assessora de Aécio, Andrea Neves, foi a primeira a pedir os recursos a Joesley.

"Não há dúvidas de que Joesley Batista apenas aceitou pagar R$2 milhões porque Aécio ocupa o cargo de senador da República, sendo um político influente na época dos acontecimentos", disse o subprocurador-geral da República Carlos Alberto Coelho. "O empresário não fez esse pagamento por altruísmo ou caridade. Ele o fez porque sabia e confiava que o senador Aécio Neves estava preparado para prestar as devidas contrapartidas", ressaltou.

Aécio afirmou na tarde de ontem que já esperava por esse resultado e recebeu com "absoluta tranquilidade" a decisão da 1ª turma da corte. "Terei oportunidade que não tive até aqui de poder provar de forma clara e definitiva a absoluta correção dos meus atos", afirmou a jornalistas num breve pronunciamento, sem respondeu a perguntas.

O tucano repetiu a tese de sua defesa, segundo a qual o pedido de R$ 2 milhões gravado pelo delator era um favor e não se vinculava a sua atuação como parlamentar. "Estou sendo processado por ter aceitado empréstimo de um empresário para pagar meus advogados", disse.

Tucano preso?

Na próxima semana, o ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB) pode se tornar uma ave mais rara ainda na cena política: um tucano preso. A 5ª Câmara Criminal do TJ de Minas julga nesse dia um recurso de Azeredo, que foi condenado a 20 anos e 1 mês de prisão por peculato e lavagem de dinheiro por conta do mensalão tucano. Caso o recurso seja negado, ele poderá ter sua prisão pedida, por ter sido condenado em segunda instância.

Reportagem da estagiária Luana Dandara, sob supervisão de Dirley Fernandes

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