Brasília - A Polícia Federal informou nesta sexta-feira que já está investigando se existe ou não a prática de locaute na paralisação dos caminhoneiros, que entrou nesta sexta no quinto dia, apesar do acordo firmado na noite desta quinta entre o governo federal e a categoria. A prática de loucate é caracterizada quando empresários de um setor contribuem, incentivam ou orientam a realização de greve de seus empregados com o objetivo de obter benefícios, o que é proibido por lei.
"Em relação ao movimento de paralisação dos caminhoneiros, a Polícia Federal informa que já está investigando a associação para prática de crimes contra a organização do trabalho, a segurança dos meios de transporte e outros serviços públicos", diz a PF em nota à imprensa.
A informação sobre a investigação da PF nesse caso foi antecipada mais cedo pelo jornal "O Estado de S. Paulo". Se comprovada a liderança do empresariado no movimento, os acusados poderão ser enquadrados no crime de apologia ao crime.
Nos bastidores, o que o governo considera é que há todo um contexto de locaute porque o movimento, que, no passado já ocorreu em proporções menores, agora veio com uma força desproporcional, após impasse entre patrões e empregados, caminhoneiros e donos de empresa. Portanto, a tese é de que, como não conseguiram chegar a um acordo, os caminhoneiros avisaram que iam parar porque não estavam concordando com preços recebidos, por causa da alta do combustível, e eles, empresários, teriam dado apoio.
Um interlocutor do Planalto diz haver uma crítica interna de que, com o movimento chegando a esse ponto, o governo se viu obrigado a fechar um acordo. Uma fonte ouvida pelo jornal comentou que quem acabou ditando a nova política do combustível foram os empresários do setor. "O acordo não foi bom", disse essa fonte, advertindo que o governo não pode negociar com a faca na cabeça, e foi o que ocorreu.
A possibilidade de locaute começou a ser pensada na terça-feira, quando a paralisação ganhou dimensão nacional. O quadro foi agravado, e muito, a partir da quarta-feira.
O governo reconhece que a gravidade da situação subiu alguns andares neste momento e a tensão aumenta no Planalto. No domingo passado, quando foram realizadas as primeiras reuniões com o presidente Michel Temer, no Palácio do Jaburu, nem ele nem seus ministros imaginavam que a situação pudesse chegar onde chegou, com tendência de agravamento ainda maior, sem precedentes no país.
Por enquanto, todos no governo estão cautelosos e falam apenas em "indícios", "possibilidades" de loucate e não querem fazer acusações diretas. Sabem que também é grande a mobilização dos caminhoneiros autônomos. E já há outros segmentos aderindo aos protestos, por causa do preço da gasolina.