Presidente deu posse ao novo ministro nesta terça-feira   - Valter Campanato/Agência Brasil
Presidente deu posse ao novo ministro nesta terça-feira Valter Campanato/Agência Brasil
Por DIRLEY FERNANDES

RIO - "A partir de agora, desaparecem todas as diferenças, prevalece nossa alma verde e amarela", afirmou o presidente Michel Temer, em vídeo divulgado na quinta-feira, saudando o início da Copa do Mundo, na qual o Brasil estreia hoje, sem sinal de que alguma diferença entre os brasileiros tenha desaparecido. "Os jogadores unidos formam um time fortíssimo", disse, insistindo na mensagem de união proposta pelos marqueteiros presidenciais. Enquanto isso, o jornalista José Trajano anunciava um comentarista para seu programa na TVT, emissora ligada a sindicatos do ABC: o ex-presidente Lula, que enviará comentários por escrito.

Misturar política e futebol, no Brasil, é tradição que vem desde a década de 1930, quando Getúlio Vargas anotou em seu diário, com certa surpresa, que a derrota do Brasil na Copa de 1938 causou "uma grande decepção e tristeza no espírito público, como se se tratasse de uma desgraça nacional".

O sociólogo e historiador Euclides de Freitas Couto, da Universidade Federal de São João del Rey, diz que sempre há a tentativa de ligar as vitórias do futebol a mensagens políticas. "Em 1970, os militares fizeram propagandas na TV com imagens da seleção, relacionando-as ao suposto sucesso do governo, sob o lema 'Ninguém segura esse país'", lembra. Porém, ele não acredita que a situação possa se repetir esse ano. "Temos o presidente mais impopular da história, o país vive uma crise política e a economia não se recuperou. Não há clima para esse tipo de apropriação", diz.

De todo modo, o técnico Tite já avisou: ganhando ou perdendo, não vai a Brasília celebrar com o Poder. E não são poucos os que especulam que o técnico possa se credenciar como potencial candidato no caso de uma campanha vitoriosa. "Não duvido que o sucesso na Copa possa credenciar Tite como candidato". 

Para o sociólogo Ronaldo Helal, da UERJ, as tentativas de surfar no sucesso da Seleção nunca funcionaram. "A tentativa vai haver. Tem um senso comum de que vitórias da Seleção favorecem o governo. Mas em 98, perdemos para a França e FHC se elegeu. Em 2014, tomamos 7 a 1 e Dilma foi reeleita. Questiono até a Copa de 70... Se o Brasil não tivesse vencido, a Ditadura teria durado menos? Não".

SEM ENTUSIASMO

Helal,que pesquisa o futebol há mais de 20 anos, não estranha o pouco entusiasmo que a Seleção tem despertado nos brasileiros. "Essa mudança não é de hoje, só está mais acentuada. A derrota para o Uruguai, em 1950, foi chamada pelo (antropólogo) Roberto DaMatta de 'pior tragédia da nossa história', porque foi a derrota de um projeto de nação. A partir da década de 90, com a globalização, o conceito de nação perdeu a importância. Hoje a gente prefere que nosso time (no caso, o Flamengo) ganhe a Libertadores. Não era assim há uns 25 anos".

PARA ALGUNS, NÃO VAI TER COPA
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Em todas as Copas, sempre se estabelece uma polêmica. Em tempos de redes sociais, ela vem em forma de postagens que acusam o futebol de alienante e dizem que a Copa vai distrair as pessoas dos verdadeiros problemas do país.
"É uma postura radical e simplista. Se assim fosse, os brasileiros não poderiam assistir às novelas, ir ao cinema, passear com o cachorro... Enfrentar nossos problemas exige participação política e entendimento dos mecanismos democráticos. O futebol não atrapalha", diz Euclides Couto, da UFSJ.
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A novidade dessa Copa é que a famosa 'amarelinha', que foi utilizada por manifestantes que defenderam o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, tem sido rejeitada por alguns setores. "Houve a apropriação dos símbolos da Pátria, em especial da camisa, por esses movimentos e quem era contrário se retraiu. Mas é uma bobagem porque todos somos brasileiros. Não há mal em torcer ou em ser patriota, isso não é ser a favor do governo", defende Ronaldo Helal, que, no entanto, admite que os escândalos na CBF enfraqueceram o valor simbólico da camisa. "Causa impacto até na imagem que você tem do futebol".
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