Rio - Mulheres negras representam 25,3% da população brasileira, 26,5% da fluminense e 24,9% da carioca, segundo o IBGE. Os espaços de poder ocupados por elas, no entanto, revelam a profunda desigualdade racial na representação política do país.
Na capital fluminense há apenas uma vereadora que se autodetermina como parda, Tânia Bastos (PRB), de um total de 51 representantes. Ou seja, as mulheres negras ocupam 1,9% dos assentos do legislativo de uma cidade na qual elas são um quarto da população. Mantida a proporção, elas deveriam ocupar pelo menos 12 cadeiras. Até pouco, ocupavam duas. Mas Marielle Franco, cuja atuação era permanentemente voltada para a luta das mulheres e dos negros, foi assassinada em 14 de março.
Na Assembleia Legislativa, são duas entre 70 as que se autodeclaram e lutam pela causa das mulheres negras: Tia Ju (PRB) e Enfermeira Rejane (PCdoB). Na Câmara dos Deputados, são quatro entre 513 - uma representação pífia de 0,7% para um contingente populacional de 25,3%. No Senado, há apenas uma mulher negra, Regina Sousa (PT), entre 81 parlamentares.
Ativistas acreditam que a morte de Marielle pode representar um marco no início da mudança desse quadro. Deparadas com a violência contra uma importante representante de suas causas, muitas mulheres decidiram avançar na busca por espaços políticos. "A gente vive uma democracia que já era incompleta. Com a morte da Marielle, a percepção da urgência ficou mais forte para nós. Isso fez com que a gente decidisse partir para ocupar o máximo de espaços", diz Talíria Petrone (Psol).
Ela foi a vereadora mais votada de Niterói em 2016. Amiga de Marielle, sofreu ameaças e ataques durante o mandato. Após a execução da parlamentar, decidiu lançar pré-candidatura a deputada federal. "A minha eleição, a da Marielle e a da Áurea Carolina (vereadora mais votada de Belo Horizonte, em 2016) demonstraram uma demanda por mais mulheres negras com mandatos populares na política institucional. A execução da Mari potencializou este movimento, com um fermento de indignação", explicou.
Para a historiadora Maria Cláudia Cardoso Ferreira da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, a movimentação das mulheres negras na busca pelo espaço devido vem desde o final dos anos 1990. "Marielle vinha de uma trajetória bonita, com uma legislatura reconhecida pela sociedade. O impacto da morte dela reverberou nos meios de comunicação e nas redes sociais, espaço em que as mulheres negras têm se organizado. Mas a própria trajetória da Marielle era parte do processo de empoderamento", acredita.
Maria Cláudia destaca a Conferência Mundial Contra o Racismo, realizada em Durban, na África do Sul, em 2001 como um marco. "As mulheres que foram lá trouxeram para o Brasil o compromisso de promover políticas e ações para combater o racismo. A busca de acesso das mulheres negras à educação, em especial no ensino superior, começou a se ampliar.
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