Brasília - A Polícia Federal enviou 20 perguntas ao presidente Michel Temer com base em delações premiadas de executivos da Odebrecht. Em depoimento, eles relataram detalhes de reunião que teria ocorrido no Palácio Jaburu quando o emedebista ocupava a Vice-Presidência na gestão Dilma Rousseff (PT). O inquérito investiga suposto apoio financeiro da empreiteira à campanha do MDB nas eleições de 2014.
"Vossa Excelência foi aquinhoado com alguma parcela desses valores?", questionou o delegado federal Thiago Machado Delabary, em documento com data de 7 de agosto.
Esta é a segunda vez que a PF envia perguntas a Temer - a primeira foi no inquérito dos Portos. Em decisão publicada na sexta-feira passada, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso atendeu a um pedido da PF e autorizou que provas colhidas na investigação dos Portos sejam compartilhadas com o inquérito que apura suposto repasse de R$ 10 milhões Odebrecht ao MDB.
No questionário, o delegado assinalou que algumas perguntas já haviam sido enviadas "e, muitas delas, respondidas". Segundo aliados, Temer, assim como no inquérito dos Portos, se sentiu hostilizado com algumas questões, as quais reputou como "ofensivas" e "invasivas". Temer já declarou ter participado do jantar no Jaburu, mas nega que os participantes tenham falado em dinheiro.
"Alguns executivos da Odebrecht afirmaram, no âmbito de seus respectivos acordos de colaboração, que, em meio à segunda rodada de concessões de aeroportos, receberam do ministro Moreira Franco solicitação de apoio financeiro à campanha do PMDB, o que teria redundado na disponibilização de R$ 4 milhões pela construtora, em recursos não contabilizados. Vossa Excelência teve ciência da solicitação e do encaminhamento dos valores? Vossa Excelência foi destinatário de alguma fração desses valores?", perguntou o delegado. "Não tenho a menor ciência do aporte desses recursos. Em razão deste fato, descabida a segunda parte da questão", respondeu Temer.
Na pergunta 4, o delegado faz menção ao jantar. "Vossa Excelência participou de jantar realizado no Palácio do Jaburu, em maio de 2014, no qual estiveram presentes Marcelo Odebrecht e Cláudio Melo Filho? Em caso de resposta afirmativa, quem mais participou do evento, qual o propósito de sua realização e o que foi efetivamente tratado?" Temer respondeu: "Deu-se o jantar. Além dos mencionados na pergunta, o ministro Eliseu Padilha. Marcelo Odebrecht comunicou que iria colaborar com vários candidatos do PMDB, o que fez oficialmente por meio do partido"
Outras indagações citam o advogado José Yunes, amigo de Temer e alvo da Operação Skala. "Conheço-o desde os tempos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco", respondeu o presidente.
A defesa de Temer afirmou que não comentaria. Moreira Franco disse que "jamais tratou de recursos de campanha com qualquer empresário". Procurado, Yunes não se manifestou.