Por O Dia

No meio do embate entre os políticos em torno do presidente Bolsonaro e os filhos do capitão, os militares tentaram ontem pacificar o Planalto, sem sucesso, por enquanto. O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, depois de ouvir o chefe declarar que, se estiver envolvido em esquema de desvios de recursos do Fundo Partidário, terá de “voltar às suas origens”, declarou à revista Crusoé que Bolsonaro tem “medo de receber algum respingo”. “Não sou moleque, e o presidente sabe”.
O ministro comentou as declarações do presidente, em entrevista à TV Record, na noite de quarta-feira, com o que pareceu uma referência aos problemas do senador Flávio Bolsonaro. “As nossas origens estão no cemitério. O presidente não morrerá presidente. Muitas pessoas que se elegeram agora, eu não quero citar nomes, que também estão aí sob foco de investigações. Vamos ver, está certo? Eu sou homem, não sou moleque”.
Mais cedo, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, afirmara que as suspeitas de esquemas de “laranjas” serão investigadas. Segundo ele, a apuração foi determinada pelo próprio presidente.
Bebianno é acusado de ter sido responsável, junto com o deputado federal Luciano Bivar (PSL-PE), pela liberação R$ 650 mil de verbas públicas de fundos partidários para duas candidatas a deputada federal que tiveram, juntas, 1.589 votos e que repassaram para uma gráfica com endereço de fachada, pelo menos R$ 430 mil.
A crise se agravou depois que Bebianno foi desmentido pelo filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ) que chamou, na quarta-feira, via Twitter, de “absoluta mentira” a afirmação do ministro de que falara com Bolsonaro três vezes na terça-feira. O ministro tentava negar desconforto no núcleo do Planalto. O embate entre Carlos e Bebianno vem desde a campanha. O Twitter do presidente replicou a postagem do filho.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afinado com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, de seu partido, partiu em defesa de Bebianno. “É um quadro que tem mostrado desde a transição até o processo todo de eleição da Câmara e do Senado, uma capacidade de articulação, junto com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, muito positiva”, afirmou.
Maia tem papel fundamental na tramitação de projetos importantes para o Executivo, como a Reforma da Previdência e o pacote anticrime. “Essa é uma crise do Executivo, das relações entre o presidente, a família e o ministro Bebianno”, disse.
Enquanto o PSL, no Congresso, olhava a situação com perplexidade, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, foi encarregado pelo núcleo militar do governo de uma tentativa de pacificação. Dificilmente, Bebianno permanecerá no governo, mas as movimentações são para que ele não saia do Planalto pela porta de trás, rumo “às suas origens”.

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