Presidente da República, Jair Bolsonaro, e presidente da Câmara, Rodrigo Maia - AFP
Presidente da República, Jair Bolsonaro, e presidente da Câmara, Rodrigo MaiaAFP
Por O Dia

Rio - No fim do dia em que os ânimos se acirraram entre o presidente da Câmara e o governo Bolsonaro, o presidente minimizou as queixas de Rodrigo Maia e o comparou a uma namorada. Diante da ameaça do presidente da Câmara de deixar a articulação política da reforma da Previdência, o presidente disse em agenda no Chile que "só conversando" será possível trazer Maia de volta. "Você nunca teve uma namorada e, quando ela quis ir embora, o que você fez? Não pediu para ela voltar? Você não conversou?", comparou.

Em resposta, Maia disse que o presidente precisa ter mais tempo para cuidar da Previdência e menos tempo cuidando do Twitter. A declaração foi dada em entrevista ao 'Jornal Nacional' da TV Globo. 

"Não preciso voltar a namorar. Eu preciso que o presidente assuma de forma definitiva o seu papel institucional, que é liderar a votação da reforma da Previdência, chamar partido por partido que quer aprovar a Previdência e mostrar os motivos dessa necessidade", retrucou o presidente da Câmara.

De acordo com pessoas próximas, Maia teria ligado para o ministro da Economia, Paulo Guedes, na sexta-feira para dizer que suspenderia as articulações da reforma. Ele teria ironizado que a partir de agora faria a "nova política", que segundo ele se resume a não fazer nada e esperar por aplausos das redes sociais. Maia disse ainda que deixaria a cargo do presidente a conquista de votos para aprovar a reforma. As informações foram divulgadas pela colunista Monica Bergamo, da Folha de S. Paulo. 

No fim da tarde, surgiram alguns 'bombeiros' ligados ao governo. O filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), o vice Hamilton Mourão e a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), líder do governo no Congresso, foram elogiosos a Maia e ressaltaram seu trabalho na articulação da reforma da Previdência e da governabilidade.

Em entrevista, Mourão - que está no exercício da Presidência - afirmou que "compete ao governo lançar pontes" para manter Maia na articulação da reforma. "Rede social não tem a ver com a opinião do Executivo", disse. Flávio afirmou que Maia "é fundamental na articulação para aprovar a Nova Previdência e combates de projeto ao crime", e que ele "está engajado em fazer o Brasil dar certo!" Joice disse que Maia é vítima de uma campanha mentirosa e reforçou que ele é um dos que "mais tem trabalhado" pela aprovação da reforma.

Bolsonaro defende Carlos

Em agenda no Chile, Bolsonaro defendeu o filho Carlos Bolsonaro, que irritou Maia ao provocá-lo nas redes. O presidente disse que a declaração de seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), com críticas a Maia por adiar a tramitação do projeto anticrime, não é motivo para ele ameaçar sair da articulação política.

"Se foi esse o motivo, eu lamento, mas isso não é motivo." Ele afirmou que "todo o Brasil está indignado" com a demora na votação do projeto anticrime.

Na quinta-feira, Carlos alfinetou Rodrigo Maia. Após a prisão do ex-ministro Moreira Franco, que é padrasto da mulher de Mara, ele compartilhou um posicionamento do ministro Sergio Moro sobre o pacote anticrime e escreveu: "Por que o presidente da Câmara está nervoso?"

A provocação veio na esteira de um embate entre Moro e Maia depois que o ministro passou a insistir para que a tramitação de seu pacote anticrime fosse acelerado. Maia alega que a decisão de priorizar a reforma da Previdência foi tomada com o presidente Bolsonaro, e que qualquer mudança neste sentido deveria vir do chefe do Executivo.

Maia se sente injustiçado por estar sendo atacado nas redes, enquanto articula um projeto de interesse do governo. Declarações do presidente da República sobre a reforma também incomodam Maia. Em sua última live, na quinta-feira, o presidente disse, por exemplo, que no fundo não gostaria de fazer a reforma, mas esta atitude seria irresponsável. Para Maia este tipo de declaração, dizendo que não gostaria de votá-la, gera insegurança entre os parlamentares.

* Com Estadão Conteúdo

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