Brasília - Uma semana após ser indicada para ocupar o cargo número 2 do Ministério de Educação, de secretária executiva da pasta, a educadora Iolene Lima anunciou que não ocupará mais a cadeira. Ela substituiria Luiz Antônio Tozi, demitido pelo ministro Ricardo Vélez. Antes de Ione, Rubens Barreto da Silva chegou a ser anunciado como secretário-executivo, mas seu nome também não foi oficializado.
Ela chegou a acompanhar o ministro Ricardo Vélez Rodríguez em Suzano, na ocasião do massacre na escola Professor Raul Brasil que deixou dez mortos, apesar de não ter sido nomeada oficialmente, com publicação no Diário Oficial da União.
A educadora publicou uma nota em sua conta do Twitter, lembrando que deixou a escola que dirigia há cinco anos e ajudou a fundar para aceitar o convite do ministro, mas recebeu a informação na quinta-feira de que não participa mais do grupo do MEC. Ela classificou o quadro da pasta como 'bastante confuso'. Apesar do vaivém ela diz que deseja o melhor para o governo Bolsonaro e do ministro Vélez Rodriguez.
Indicada disse que ensino deveria vir da Bíblia
Iolene Lima já defendeu que o ensino deveria ser baseado "na palavra de Deus". Em um vídeo de 2013, durante entrevista ao canal de TV evangélico Feliz Cidade, afirmou que o "primeiro matemático e geógrafo foi Deus" e que "as crianças começam a ter contato com essas matérias no primeiro livro da Bíblia sagrada, o Gênesis". Ela também defendeu organizar o currículo escolar "a partir das escrituras".
A educadora, que é evangélica, dirigiu uma escola batista em São José dos Campos, no interior paulista, que afirma em seu site ter "conteúdos curriculares dentro da cosmovisão bíblica". Ela atuava na Secretaria de Educação Básica do MEC, à espera da promoção.
Na entrevista, Iolene diz que "uma educação baseada em princípios é uma educação baseada na palavra de Deus". "O aluno vai aprender que o autor da história é Deus, o realizador da geografia é Deus. Deus fez as planícies, o relevo, o clima. O primeiro matemático foi Deus".
Em outro trecho, ela exemplifica sua tese. "Uma coisa é o aluno ouvir: 'Olha, você não pode escovar o dente com a torneira aberta'. Outra coisa é o aluno ouvir: ‘Você não pode porque tem um princípio bíblico que diz que você precisa cuidar de tudo, que é o princípio da mordomia. Deus deu, mas não é para esbanjar, é para cuidar’", diz.
Crise no MEC
Iolene assumiria a vaga de Luiz Antonio Tozi, demitido no último dia 14 a pedido de Bolsonaro. De perfil técnico, ele havia trabalhado para o governo de São Paulo e fazia parte de um grupo que vinha aconselhando Vélez a dar um novo direcionamento para o ministério. Outros dois grupos brigam por poder na pasta: os chamados "olavistas", ligados ao escritor Olavo de Carvalho - considerado "guru do bolsonarismo" - e os militares.
Vélez chegou a anunciar que Rubens Barreto seria o sucessor de Tozi, mas pressões internas não o deixaram nem sequer assumir o cargo. Iolene foi indicada a Tozi pelo presidente da Capes, Anderson Ribeiro Correia. Os três são de São José dos Campos, no interior de São Paulo - Correia também é evangélico. Mas a educadora também não assumiu oficialmente o cargo número 2 do ministério.
Quando começaram as disputas entre grupos no MEC, há mais de um mês, o grupo técnico entendeu que a presença de evangélicos poderia fortalecer o ministro contra os chamados "olavistas" - seguidores do escritor Olavo de Carvalho, "guru" dos bolsonaristas. Representantes de instituições cristãs passaram a ser recebidos no MEC sem que o grupo ligado a Olavo soubesse.
Após tuítes raivosos de Olavo contra Tozi, Bolsonaro pediu a cabeça do número 2 do MEC. Após a pressão pela não nomeação de Barreto, Vélez pensou em se demitir, mas foi convencido a continuar no cargo. A solução encontrada para tentar segurar o ministro foi colocar Iolene no posto. Mesmo com a escolha de Iolene, Vélez continua sem força - diversos grupos se movimentam para indicar seu sucessor, entre evangélicos e militares.
A disputa política instalada no MEC já provocou o afastamento de oito funcionários, além do atraso de ações rotineiras, como a compra de livros didáticos.
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