Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio MoroMarcelo Camargo/Agência Brasil
Por MARTHA IMENES
Publicado 14/06/2019 22:54 | Atualizado 15/06/2019 08:13
Rio - Em mais episódio do caso do vazamento das conversas entre o ministro da Justiça Sergio Moro e seus pares, o site The Intercept Brasil divulgou na noite desta sexta-feira um trecho do chat privado entre o ex-juiz e o então procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima. Segundo informações do site, as conversas mostram que o ex-juiz pediu aos procuradores da Lava Jato uma nota à imprensa para rebater o que chamou de “showzinho” da defesa de Lula após o depoimento do ex-presidente no caso do triplex do Guarujá.
Cabe ressaltar que o então presidente Lula foi condenado a 12 anos e 1 mês de reclusão. No último dia 23 de abril, a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu reduzir a pena imposta ao ex-presidente. O relator, Felix Fischer, e os ministros Jorge Mussi, Reynaldo Soares da Fonseca, presidente da turma, e Marcelo Navarro concordaram em reduzir para 8 anos, 10 meses e 20 dias de reclusão a pena imposta pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). 
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O episódio do contato entre Moro e o procurador, conforme o site, ocorreu em 10 de maio de 2017, quando Moro já presidia um processo criminal contra o ex-presidente no caso do “apartamentro triplex do Guarujá”. Eram 22h04 quando o então juiz federal pegou o celular, abriu o aplicativo Telegram e digitou uma mensagem ao Santos Lima, da força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público Federal em Curitiba. “O que achou?”, quis saber Moro. O juiz se referia ao maior momento midiático da Lava Jato até então, ocorrido naquele dia 10 de maio de 2017: o depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no processo em que ele era acusado – e pelo qual seria preso – de receber como propina um apartamento triplex no Guarujá. Disponibilizado em vídeo, o embate entre o juiz e o político era o assunto do dia no país.
O Intercept Brasil contextualiza e conta que além do depoimento, outro vídeo com Lula também tomava conta da internet e dos telejornais naquele mesmo dia. Depois de sair do prédio da Justiça Federal, o ex-presidente se dirigiu à Praça Santos Andrade, em Curitiba, e fez um pronunciamento diante de uma multidão. Por 11 minutos, Lula atacou a Lava Jato, o Jornal Nacional e o então juiz Sergio Moro; disse que estava sendo “massacrado” e encerrou com uma frase que entraria para sua história judicial: “Eu estou vivo, e estou me preparando para voltar a ser candidato a presidente desse país”. Era o lançamento informal de sua candidatura às eleições de 2018.
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As mensagens enviadas, segundo o Intercept Brasil, dão conta de que logo depois do último contato Moro mandou para o procurador Santos Lima o seguinte texto: "Talvez vcs devessem amanhã editar uma nota esclarecendo as contradições do depoimento com o resto das provas ou com o depoimento anterior dele".
Ao que o procurador respondeu: "Podemos fazer. Vou conversar com o pessoal. Não estarei aqui amanhã. Mas o mais importante foi frustrar a ideia de que ele conseguiria transformar tudo em uma perseguição sua." Ainda segundo o site, os procuradores acataram a sugestão do atual ministro da Justiça de Jair Bolsonaro.
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Moro diz que não cometeu ilícito
Conforme mensagens publicadas pelo site The Intercept Brasil, o então juiz da Lava Jato teria repassado informalmente uma pista sobre o caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o Ministério Público Federal investigasse. O ministro alegou que a troca de informações entre as partes é uma rotina comum de juízes, promotores e advogados. "Eu recebi aquela informação, e aí sim, vamos dizer, foi até um descuido meu, apenas passei pelo aplicativo. Mas não tem nenhuma anormalidade nisso. Não havia uma ação penal sequer em curso. O que havia é: é possível que tenha um crime de lavagem e eu passei ao Ministério Público", disse Moro após cerimônia na Polícia Rodoviária Federal, em Brasília.
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Em entrevista ao Estado, Moro afirmou que somente se afastaria do cargo no governo se houvesse um "comportamento impróprio". Ao ser perguntado nesta sexta sobre quem apontaria uma conduta ilegal, ele reforçou que cometeu um "descuido formal", mas nada "ilícito". "Eu acho que simplesmente receber uma notícia-crime e repassar a informação não pode ser classificado como uma conduta imprópria", declarou.
"Eventualmente pode ter tido havido algum descuido formal, mas enfim, nisso não há nenhum ilícito se a indagação é nesse sentido. Eu não cometi nenhum ilícito, estou absolutamente tranquilo com relação a todos os atos que cometi enquanto juiz da Operação Lava Jato."
O ministro da Justiça repetiu que o caso está sendo investigado e que há informações de invasão a celulares de jornalistas e parlamentares. Além disso, reafirmou que não acredita na ação de uma pessoa sozinha, mas de um "grupo criminoso" para atacar as instituições brasileiras. "As instituições brasileiras estão sob ataque, (são) pessoas ousadas", disse.