Humorista Gustavo Mendes - Divulgação
Humorista Gustavo MendesDivulgação
Por Ana Mello*
Minas Gerais - O humorista Gustavo Mendes, conhecido por interpretar a ex-presidente Dilma Rousseff no YouTube, teve o seu stand up "Di Uma Vez Por Todas" interrompido após fazer críticas a Bolsonaro, nesta sexta-feira, em Teofilo Otoni, município do interior de Minas Gerais. Parte do público saiu do teatro no meio do espetáculo e reivindicou o dinheiro do ingresso.
De acordo com o advogado e professor universitário João Gabriel Prates, de 26 anos, que estava presente na plateia, o artista foi hostilizado com expressões como "vai fazer show na África" e "eu te paguei para fazer piada, para de fazer política".
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"Ele faz o personagem da Dilma sem ser depreciativo e as pessoas estavam reagindo ao que ele falava, rindo e criticando também. Até que alguns espectadores contrários ao posicionamento que ele adota no show reagiram de forma mais pesada às críticas ao Bolsonaro. O Gustavo parou o show e disse que ia devolver o dinheiro", conta.
João Gabriel também afirmou que as pessoas tentaram censurar o espetáculo, acionando a Polícia Militar.
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"Os produtores estavam do lado de fora pegando os nomes de quem queria o dinheiro de volta e parte dessas pessoas queria voltar para atrapalhar o show. A Polícia Militar foi chamada numa tentativa deles de acabar com o stand up. O Gustavo ficou abalado com a situação, mas deu continuidade ao espetáculo depois da confusão e recebeu as pessoas para tirar foto no final".
De acordo com a Polícia Militar de Teófilo Otoni, os policiais militares foram acionados por volta das 21h35 e houve registro de um boletim de ocorrência. A assessoria de Gustavo Mendes emitiu uma nota para comentar sobre o caso.
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Nas redes sociais, vídeos sobre o episódio viralizaram no Twitter e o assunto foi um dos mais comentados na plataforma durante a manhã deste sábado.
No Facebook, o humorista publicou um longo pronunciamento. Confira
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"É possível que você já tenha sabido o que aconteceu durante o meu show em Teófilo Otoni. Parte da plateia, insatisfeita com as piadas sobre Bolsonaro se sentiu no direito de dizer o que eu posso ou não posso falar nos meus shows. E Isso nunca, amiguinhos, nunca vai acontecer, porque isso se chama censura e eu não vou aceitar essa tentativa de intimidação. Principalmente vindo de pessoas que se articularam para isso. O problema daquelas pessoas não eram as piadas políticas. Ora, eu sou Gustavo Mendes. Minha trajetória sempre foi de assumir posições com força e transparência, mesmo sabendo que isso incomodava muita gente. O Humor é sempre OPOSIÇÃO. Esse é o papel do artista e principalmente o do comediante: incomodar os poderosos. Onde estavam essas pessoas quando eu debochava da Dilma? Debochava do Temer?
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Eu amo meu público, mesmo aqueles que votaram no Bolsonaro, mas não vou me calar diante do que está acontecendo hoje no Brasil: os milhões de desempregados continuam sem ver nenhuma medida que lhes dê esperança; nossa maior riqueza – a Amazônia – sendo devastada e um governo que incentiva o desmatamento; a promessa de acabar com a corrupção e um governo que tem seus corruptos de estimação; milhões passando fome e um governo que nega a existência da miséria. Quem não está cumprindo o que prometeu não sou eu. Onde está o Brasil melhor que foi prometido? Violência, corrupção, desemprego, nepotismo; tudo continua e piora porque o presidente está sempre mais ocupado em causar polêmica que governar. As pesquisas mostram que os que consideram seu governo ruim ou péssimo já são 40%.
Amigos, não sou eu que invento esses números, nem sou eu que faz o povo deixar de gostar desse governo. O pior inimigo do Bolsonaro é ele mesmo. E os que apoiam os erros dele. Isso que aconteceu contra mim, infelizmente não é um privilégio meu. É uma nova onda de intimidação à liberdade de expressão: Roger Waters do Pink Floyd e Cateano foram vaiados; Miriam Leitão foi impedida de lançar seu livro numa Feira; Gleen – que denunciou a vaza jato - sofreu foguetaço em Parati; professores são filmados por alunos que se acham no direito de ser uma patrulha ideológica; e por aí vai. Você pode não gostar das minhas posições, mas não se deixe ceder à tentação do autoritarismo.
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Um Brasil melhor só vai ser construindo num ambiente de tolerância e respeito. Exterminar a ideia contrária só cria a falsa sensação de uma unanimidade burra. Nenhuma piada ou crítica pode justificar a censura à liberdade de expressão. Seguirei firme sendo o Gustavo Mendes que sempre fui. Sei que pago um preço por isso, mas ao mesmo tempo tenho um lucro imenso. Do amor sincero dos que admiram meu trabalho mesmo eventualmente discordando das minhas opiniões; e principalmente, da consciência tranquila de que estou do lado certo da história. Um beijo cheio de amor a todos".
* estagiária sob supervisão de Cadu Bruno