Marina Silva - AFP / Evaristo Sá
Marina SilvaAFP / Evaristo Sá
Por ESTADÃO CONTEÚDO
Brasília - A ex-ministra do Meio Ambiente e candidata à Presidência da República nas últimas eleições Marina Silva comentou nesta segunda-feira, 9, a crise ambiental que afetou o País no último mês. Segundo ela, a comoção internacional gerada, sobretudo na Europa, é um reflexo de uma falta de interesse por parte do governo brasileiro em proteger a Amazônia. "Talvez seja proporcional ao descaso nacional em termos de política pública", disse durante Exame Fórum 2019.

Marina ressaltou que a crise atual tem gerado grave prejuízo diplomático, comercial e ambiental para o país e para os acordos internacionais que o Brasil quer finalizar.

Ela destacou que vê a situação atual com "tristeza profunda e indignação". Para a ex-ministra, o Brasil tem voltado à condição de "vilão" ambiental, papel que havia revertido na década de 90. E criticou os sinais dados pelo governo Bolsonaro e pelas pessoas ligadas a ele, que poderiam endossar o comportamento de quem desmata e invade terra pública.

"Quando o governo diz que vai acabar com a indústria da multa, está desqualificando o trabalho do Ibama e ICMBio, quando tirou o serviço florestal e colocou no Ministério da Agricultura, quando o senador Flávio (Bolsonaro) assina projeto de lei acabando com a reserva legal, quando manda projeto para o Congresso dizendo que vai ter mineração em terra indígena. Isso tudo são sinais para que as pessoas que já têm na veia essa coisa de ocupar a terra pública. Se antes era "plante, que o João garante, agora é desmate, que o governo garante", disse.

Ela defendeu que há formas de fazer uma transição, dentro do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento, para um desenvolvimento sustentável. Segundo ela, junto a um grupo de ex-ministros do Meio Ambiente, entregou documento ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, para atualizar e recuperar o plano "para que se enfrente de forma estrutural e não com propaganda" o problema ambiental.

Marina criticou a forma como o ambientalismo tem sido relacionado à esquerda: "Meio ambiente não é coisa de esquerda, direita, centro, lado de cima, é coisa de ser humano. É um novo padrão civilizatório e isso deve estar internalizado nas políticas públicas e nas empresas", disse.

Ela destacou que vários governos anteriores foram pressionados para voltar atrás em políticas ambientais, citando Lula e Fernando Henrique Cardoso. Segundo ela, é necessário haver um endossamento por parte da equipe técnica do governo e da sociedade para que o presidente endosse tais políticas.