Ex-presidente Lula em discurso na porta da Polícia Federal, em Curitiba, logo após sair da prisão - AFP
Ex-presidente Lula em discurso na porta da Polícia Federal, em Curitiba, logo após sair da prisãoAFP
Por iG

São Paulo - O ex-presidente Lula afirmou na tarde desta quarta-feira que “o PT tem que polarizar mesmo, tem que disputar para valer”. Ele também valorizou o legado petista: “Eu acho que nós acertamos mais do que erramos”. Lula deu entrevista ao canal do youtube Nocaute, do jornalista Fernando Morais. Foi a primeira desde que saiu na prisão na sexta-feira.

Lula respondeu às críticas de que sua liberdade acirraria ainda mais a polarização do cenário político brasileiro. Para ele, é necessário que seu partido faça forte oposição ao atual governo e não aceite a “prevalência do discurso conservador”. Ele teceu duras críticas a gestão de Bolsonaro e defendeu: “Tem que brigar, tem que lutar, tem que se defender”.

Na entrevista, o ex-presidente reforçou em diversos momentos o seu desejo de justiça e falou sobre como pretende agir agora que saiu da prisão. “O meu papel é falar com o povo. E não me peçam paciência. Nem com Bolsonaro, nem com o Moro, nem com o Dallagnol. Eu quero recuperar o respeito que eu ganhei na sociedade brasileira durante toda a minha vida”, disse. “Estou na briga e estou esperançoso”.

O petista começou a entrevista ressaltando que está solto, mas não livre. Ele disse sonhar com a anulação de seu processo na justiça. Ele aproveitou a oportunidade para tecer duras críticas ao procurador do Ministério Público Federal Deltan Dallagnol. “Eu mesmo preso eu vi aquele Dallagnol descarado ameaçar o Congresso Nacional, ameaçar a Câmara, ameaçar o Senado, ameaçar o procurador-geral, ameaçar a Suprema Corte. Moleque irresponsável e desaforado”, disse. “Eu quero justiça e justiça passa por esses cidadãos serem punidos”, completou.

Lula também comentou a prisão após condenação em segunda instância, que foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal, mas ainda pode ser novamente instaurada pelo Congresso Nacional. “A Constituição não é um papel apócrifo que você pode jogar fora a qualquer momento. Existe uma elite conservadora que hoje enxerga a Constituição como um atraso para o país. Espero que o Congresso tenha a grandeza de não derrubar a prisão após trânsito em julgado”, disse.

Eleições 2020

Em relação às eleições municipais de 2020, Lula afirmou que acredita que o PT deve ter candidatos. “Não sou contra o PT ter alianças, mas acho que o partido tem, sim, que ter candidato. E se não for pro segundo turno, apoia um candidato progressista”, explicou. “Se o PT não tiver um candidato fazendo discurso, usando tempo de televisão, como é que o PT vai eleger vereador?”.

O ex-presidente também negou a informação de que o PT teria acertado um apoio à candidatura do deputado federal pelo Psol Marcelo Freixo para a prefeitura do Rio de Janeiro. Ele defendeu a candidatura de Benedita da Silva, mas afirmou que se o PT não for para o segundo turno na cidade, apoiará Marcelo Freixo.

Relação com outros políticos

Perguntado sobre se guarda rancor de pessoas que o criticaram, Lula afirmou que não guarda rancor. Ele falou que a senadora Marta Suplicy, que saiu do PT e tornou-se crítica do partido, foi a melhor prefeita que São Paulo já teve. Disse ainda que não tem problema em conversar com o presidente da Câmara Rodrigo Maia.

Sobre o ex-governador do Ceará Ciro Gomes, Lula disse que prefere “ficar com as coisas boas”. “Eu sou grato a ele por ter trabalhado comigo e por ter sido leal”, disse. Mas alfinetou a isenção de Ciro no segundo turno das eleições de 2018.

Lula falou ainda sobre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “Ele sabe que eu sou honesto, mas ele não tem coragem de dizer que eu sou honesto”, disse. "Ele não aprendeu a conviver com o meu sucesso. Eu fiz mais sucesso internacional do que ele", cutucou.

Autocrítica do PT

Lula negou que seja necessário para o PT fazer uma autocrítica. “Se você tem críticas pra fazer ao PT, faça. Mas se eu ficar toda hora fazendo autocrítica, aí nem precisamos de oposição”, afirmou. O ex-presidente também defendeu o legado de seu governo: “Eles sabem dos nossos erros, mas também sabem que fomos quem mais fez pelo Brasil”.

“O PT é o mais importante partido de esquerda da América Latina”, cravou Lula. “O PT é o grande partido deste país. Por que nós vamos abrir mão da nossa grandeza?”. Ele disse ainda que está disponível para ajudar o partido a crescer e disputar eleições, mas ressalvou: “o PT vai continuar sendo grande se o PT não se afastar do povo”.

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