Nove jovens morreram pisoteados após ação da Polícia Militar no baile da DZ7, na comunidade de Paraisópolis - Reprodução/Facebook
Nove jovens morreram pisoteados após ação da Polícia Militar no baile da DZ7, na comunidade de ParaisópolisReprodução/Facebook
Por ESTADÃO CONTEÚDO
São Paulo - Cenas de terror e medo em Paraisópolis, com a suspeita de ação truculenta da Polícia Militar, assustam os moradores da segunda maior comunidade de São Paulo há pelo menos dez anos. Na madrugada deste domingo, 1º, nove pessoas morreram pisoteadas e outras 12 ficaram feridas durante tumulto após ação da PM em um baile funk.

Em 2009, moradores de Paraisópolis denunciaram à reportagem do jornal O Estado de S. Paulo agressões, sessões de tortura e invasões sem mandados judiciais por policiais durante os três meses de Operação Saturação da PM.

A operação teve início depois dos tumultos provocados por algumas dezenas de moradores, em 2 de fevereiro, que deixaram três PMs baleados. Entre os agitadores havia chefes do tráfico de drogas. Como resposta, nos dias que se seguiram ao quebra-quebra, parte da tropa deixou rastros de abusos e violência.

"Durante a ocupação, tentativas de desestabilização das forças de segurança foram levadas a efeito por parte de pessoas que se sentiam incomodadas com a presença da polícia", afirmou à reportagem, em 2009, o capitão Emerson Massera, porta-voz da PM

Entre o fim de 2012 e o início de 2013, durante uma onda de violência que atingiu a capital e a região metropolitana, deixando mais de 100 mortos, a Operação Saturação prendeu mais de 100 pessoas em Paraisópolis. A ação teve como objetivo capturar criminosos e sufocar o tráfico de drogas na comunidade, de onde partiriam ordens para a execução de PMs. A polícia encontrou uma lista com o nome de 40 agentes de segurança marcados para morrer.

Porém, os moradores novamente reclamaram de abusos da PM. Um dos casos mais marcantes foi o de uma jovem de 17 anos que perdeu um olho, segundo seu relato, por um tiro de bala de borracha disparado por policiais.

A comunidade relatou à Defensoria Pública de São Paulo outras ocorrências de invasões a residências, determinação de toque de recolher e destruição de bares pelos policiais.

À época, os moradores se organizaram para tentar denunciar os abusos dos policiais. Os depoimentos, todos anônimos, foram colhidos pela organização não governamental (ONG) Tribunal Popular. Na favela, o grupo de policiais violentos ficou conhecido como o "Bonde do Careca".

Em 2019, segundo os relatos, a escalada da tensão se iniciou após o assassinato na comunidade do sargento da PM Ronald Ruas, há um mês. De acordo com os moradores, aumentaram em Paraisópolis ações policiais, com denúncias de ameaças e truculência.

Nas redes sociais, moradores vinham comentando nos últimos dias sobre uma possível "invasão" da PM na comunidade.