Presidente falou com jornalistas na manhã desta sexta-feira na entrada do Palácio da Alvorada, em Brasília - Reprodução
Presidente falou com jornalistas na manhã desta sexta-feira na entrada do Palácio da Alvorada, em BrasíliaReprodução
Por ESTADÃO CONTEÚDO
São Paulo - A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou nota nesta sexta-feira, 20, em que protesta contra o tratamento dado pelo presidente Jair Bolsonaro a jornalistas nesta manhã na saída do Palácio da Alvorada. Para a entidade, as respostas exaltadas do presidente com ataques pessoais, caracterizam assédio moral aos profissionais.

Bolsonaro se irritou com as perguntas dos jornalistas e não respondeu várias das indagações. "Você tem uma cara de homossexual terrível, mas nem por isso eu te acuso de ser homossexual. Se bem que não é crime ser homossexual", disse a um repórter quando questionado se Flávio teria cometido algum deslize.

Com dedo em riste, o presidente mandou jornalistas "ficarem quietos" mais de uma vez.

Um outro jornalista perguntou se ele teria o comprovante do empréstimo, de R$ 40 mil a Fabrício Queiroz que segundo o presidente, foi ele mesmo que fez. "Oh, rapaz, pergunte para a tua mãe o comprovante que ela deu ao teu pai, está certo?" foi a resposta de Bolsonaro.

Na nota, a Abraji diz que "foram mais de uma dezena de ocasiões ao longo do primeiro ano de mandato em que o presidente teve atitude semelhante. Os apoiadores do presidente que também o aguardam na porta do Alvorada costumam celebrar os ataques, acentuando o clima de intimidação contra os repórteres".

"Atacar jornalistas como forma de evitar prestar informações de interesse público e receber aplausos de apoiadores é ação incompatível com o respeito ao trabalho da imprensa, fundamental para a democracia", concluiu a entidade na nota.
Confira a nota completa:
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"Nesta sexta-feira (20.dez.2019), o presidente Jair Bolsonaro, ao ser abordado por jornalistas na saída do Palácio da Alvorada, assediou moralmente os profissionais, recusou-se a responder perguntas e disse que a imprensa deveria se calar.

Após fazer uma pergunta sobre a mudança da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, um repórter recebeu a resposta do presidente: “Você pretende se casar comigo um dia? (...) Responde. Você não gosta de louro de olhos azuis?” Diante do silêncio do jornalista, Bolsonaro insistiu no assédio moral: “Não seja preconceituoso. Vou te processar por homofobia. Você é homofóbico”.

Outro jornalista perguntou ao presidente a respeito das investigações sobre seu filho, o deputado federal Flávio Bolsonaro. Também recebeu resposta agressiva e de tom sexista: “Você tem uma cara de homossexual terrível e nem por isso eu te acuso de ser homossexual”.

Foram mais de uma dezena de ocasiões ao longo do primeiro ano de mandato em que o presidente teve atitude semelhante. Os apoiadores do presidente que também o aguardam na porta do Alvorada costumam celebrar os ataques, acentuando o clima de intimidação contra os repórteres.

Embora desta vez os alvos tenham sido homens, as jornalistas são as mais visadas pelo presidente na hora de atacar os profissionais. Segundo relatos de repórteres, Bolsonaro visa determinadas mulheres para constranger frequentemente, sempre que as vê ou é abordado por elas.

Atacar jornalistas como forma de evitar prestar informações de interesse público e receber aplausos de apoiadores é ação incompatível com o respeito ao trabalho da imprensa, fundamental para a democracia.

Diretoria da Abraji, 20 de dezembro de 2020."