Em nota, o ministério disse que colocou o número quatro onde deveria estar um cifrão. No documento, contudo, há um cifrão antes do número quatro.
O Estado apurou que a nota foi elaborada após o presidente Jair Bolsonaro questionar o ministro Mandetta sobre o valor solicitado a Paulo Guedes. Bolsonaro tem minimizado a pandemia do novo coronavírus. Ele já disse várias vezes que se trata de uma "gripezinha". O discurso do Ministério da Saúde contraria o do presidente e, no documento, a pasta chega a estimar que 10% da população brasileira pode ser infectada.
Apenas para estas internações, a equipe da saúde espera gastar R$ 9,3 bilhões. No documento enviado a Guedes, a pasta reconhece que a cifra é bastante subestimada.
Bolsonaro, em discurso nos últimos dois dias, já criticou, inclusive, o isolamento das pessoas como uma forma de combate à doença, por considerar que há uma "histeria" no tratamento do assunto.
O Estadão procurou a assessoria do Ministério da Saúde, questionando o valor de R$ 410 bilhões por duas vezes. Nas ocasiões, em nenhum momento, a pasta questionou o valor. O jornal também conversou com técnicos do primeiro escalão do ministério que participaram da elaboração do documento. Também não houve qualquer contestação da cifra.
Doença pode custar R$ 410 bilhões ao SUS, estima o Ministério da Saúde
O documento apontava que a covid-19 pode exigir R$ 410 bilhões a mais dos cofres públicos para que o Sistema Único de Saúde (SUS) consiga atender a população infectada. A projeção está registrada em documento, obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo, enviado na terça-feira pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, a Paulo Guedes, da Economia.
Para chegar à cifra de R$ 410 bilhões, a equipe da Saúde projeta, por exemplo, o custo de R$ 9,31 bilhões para internações, caso 10% da população seja contaminada. O valor é "conservador", segundo o mesmo documento, "sendo necessário, assim, um aporte maior de recursos emergenciais". O orçamento do Ministério da Saúde previsto para todas as ações da pasta neste ano é de cerca de R$ 125,5 bilhões. O documento enviado a Guedes afirma que, "como na maioria dos países", os números de infectados no Brasil têm crescido de forma exponencial. "E há indícios de que estejam subestimados."
A Saúde ainda alerta que a prevenção de uma epidemia se torna mais desafiadora e cara quando há falhas na prevenção de surtos. "A mitigação da epidemia continua sendo a única opção política. Atrasos na detecção e controle são, em última análise, muito caros, porque os custos de contágio e mitigação crescem exponencialmente."
Urgência
Os dados sobre o impacto orçamentário da crise pela covid-19 foram expostos como parte de justificativa para elaborar um projeto com financiamento de US$ 100 milhões (R$ 503 milhões, considerando a atual taxa de câmbio) do Banco Mundial para compra de testes de diagnóstico, custeio de serviços "pré-clínicos" e contratação de equipes de saúde para atuarem emergencialmente.
A Saúde também considera "urgente" a busca por profissionais da área. A ideia é usar US$ 62,4 milhões (R$ 313,8 milhões) para contratar emergencialmente, especialmente para atuar durante três meses em centros de terapia intensiva (CTIs). A pasta quer ainda recursos do banco para compra de milhares de testes de diagnóstico. O governo anunciou na terça-feira que pretende ter mais de 22 milhões de dispositivos para exames. O projeto prevê a compra de testes para 1,53 milhões de pessoas sintomáticas, no valor de US$ 27,6 milhões.
A proposta obtida pelo Estado afirma que os testes rápidos da doença devem ser usados como "ferramenta para auxílio no diagnóstico". "Resultados negativos não excluem a infecção por SARS-CoV-2 e resultados positivos não podem ser usados como evidência absoluta. O resultado deve ser interpretado por um médico com auxílio dos dados clínicos e outros exames laboratoriais confirmatórios", diz o documento.
Procurado, o Ministério da Saúde confirmou que pediu um financiamento ao Banco Mundial de US$ 100 milhões para ações de combate ao novo coronavírus, mas não explicou o cálculo para chegar ao montante do SUS que a crise pode exigir. O Ministério da Economia, por sua vez, disse que o assunto deve ser tratado com a Saúde.