Luiz Henrique Mandetta foi demitido do cargoMarcello Casal Jr/ Agéncia Brasil
Por O Dia
Publicado 16/04/2020 16:22 | Atualizado 16/04/2020 16:53
Brasília - Luiz Henrique Mandetta anunciou, nesta quinta-feira, que não é mais o titular do Ministério da Saúde. No Twitter, ele afirmou que foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro e disse que o novo coronavírus é o "grande desafio que o nosso sistema de saúde está por enfrentar". "Acabo de ouvir do presidente Jair Bolsonaro o aviso da minha demissão do Ministério da Saúde. Quero agradecer a oportunidade que me foi dada, de ser gerente do nosso SUS, de pôr de pé o projeto de melhoria da saúde dos brasileiros e de planejar o enfrentamento da pandemia do coronavírus, o grande desafio que o nosso sistema de saúde está por enfrentar".
"Agradeço a toda a equipe que esteve comigo no MS e desejo êxito ao meu sucessor no cargo de ministro da Saúde. Rogo a Deus e a Nossa Senhora Aparecida que abençoem muito o nosso país", disse.
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O médico oncologista Nelson Teich assumirá o cargo. Ele se reuniu com o presidente pela manhã, quando, segundo interlocutores do presidente, causou boa impressão. O médico foi consultor da área de saúde na campanha de Jair Bolsonaro, em 2018, e é fundador do Instituto COI, que realiza pesquisas sobre câncer.

Em seu currículo em redes sociais, o oncologista também registra ter atuado como consultor do secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Denizar Vianna, entre setembro do ano passado e março deste ano. Teich e Vianna foram sócios no Midi Instituto de Educação e Pesquisa, empresa fechada em fevereiro de 2019.

A escolha de Teich foi considerada internamente no governo como uma vitória do secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajgarten, e do empresário bolsonarista Meyer Nigri, dono da Tecnisa. Os dois foram os principais apoiadores de seu nome para o cargo.

Teich teve o apoio da classe médica e contou a seu favor a boa relação com empresários do setor da saúde. O argumento pró-Teich no Ministério da Saúde é o de que ele trará dados para destravar debates "politizados" sobre a covid-19.

Em artigo publicado no dia 3 de abril em sua página no LinkedIn, o escolhido para a Saúde critica a discussão polarizada entre a saúde e a economia. "Esse tipo de problema é desastroso porque trata estratégias complementares e sinérgicas como se fossem antagônicas. A situação foi conduzida de uma forma inadequada, como se tivéssemos que fazer escolhas entre pessoas e dinheiro, entre pacientes e empresas, entre o bem e o mal", afirma ele no texto.
Candidato é bom pesquisador, mas não conhece o SUS, disse Mandetta

Sem citar o nome do oncologista Teich, que havia se reunido mais cedo com Bolsonaro, Mandetta afirmou que o então candidato à sua vaga é bom pesquisador, mas não conhece o SUS.

Mandetta disse que a sua equipe poderia ajudar na transição e até mesmo compor a próxima gestão da pasta. "Ajuda ai, Denizar, fica um tempo aí, se a pessoa te pedir. Cada um ajude com o que puder ajudar", disse Mandetta, dirigindo-se ao atual secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Denizar Vianna.

Vianna e Teich foram sócios no Midi Instituto de Educação e Pesquisa, empresa fechada em fevereiro de 2019.
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Pesquisa: contra saída
A maioria dos brasileiros foi contrária à demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, de acordo com pesquisa Atlas realizada entre domingo, dia 12, e terça-feira (14) com uma amostra de 2 mil pessoas. O levantamento indicou que 76,2% discordam da remoção do ministro, que é tida como iminente no Planalto. Apenas 13,7% concordam com a saída dele e 10,1% não sabem.

A pesquisa conta com uma margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos, considerando um índice de confiança de 95%.

No contexto do combate à pandemia do novo coronavírus, a popularidade do ministro começou a aumentar a partir de meados de março. Tracking da Atlas indica que, ainda no mês passado, Mandetta ultrapassou o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e se tornou o quadro mais bem avaliado do governo.

O levantamento também revela queda da avaliação do presidente da República, Jair Bolsonaro. Atualmente, 42,5% da população avaliam sua gestão como ruim ou péssima, 29,5% dizem que é regular, 22,9% afirmam que é boa ou ótima e 5,1% não sabem. Perguntada sobre um eventual impeachment do presidente, a maioria - 46,5% - é a favor. Outros 43,7% são contra e 9,8% dizem não saber.

Já em relação ao ministro, 64% das pessoas avaliam Mandetta positivamente, ante 17% que reprovam sua atuação e 19% que não sabe responder.

O levantamento revelou ainda que a maioria dos brasileiros, 72,2%, concorda com as medidas de contenção do novo coronavírus, como suspensão de aulas, fechamento de lojas e restrições à circulação de pessoas. Cerca de metade, 51,6% relatam que sua renda mensal diminuiu. Além disso, 41,9% dizem temer pela sua vida e 86,2% estão com medo de perder um familiar ou amigo em função da doença.
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Coletiva em tom de despedida
'Entramos no ministério juntos, estamos no ministério juntos, e sairemos juntos do ministério (da Saúde) juntos', com esta frase o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou em coletiva que ele e os secretários Wanderson Oliveira, que anunciara sua saída da pasta ontem pela manhã, e João Gabbardo permaneceriam no ministério. E garantiu que nada muda enquanto ele estiver à frente da pasta.

O secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira havia pedido demissão em razão das divergências do ex-ministro com o presidente Jair Bolsonaro sobre o isolamento social como forma de conter a epidemia de coronavírus - Mandetta defende um isolamento amplo; Bolsonaro discorda e quer a retomada das atividades econômicas.

"Hoje (quarta-feira) teve muito ruído por conta do Wanderson. Já falei que não aceito. Wanderson continua, está aqui. Acabou esse assunto. Vamos trabalhar juntos até o momento de sairmos juntos do Ministério da Saúde", declarou.
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Cargo em risco e perda de apoio de militares

Depois de ter assumido tom de confronto contra Bolsonaro (sem partido) em uma entrevista à Rede Globo, Mandetta afirmou nesta terça-feira a interlocutores que ter dado a entrevista foi um erro e reconheceu que seu cargo estava em risco.

A entrevista à Globo fez com que Mandetta perdesse apoio tanto de militares – que defendiam que Bolsonaro adiasse a demissão para junho – quanto de congressistas. O presidente acredita que desta vez, diferente da última tentativa de demitir o ministro em 6 de abril, a defesa em nome de Mandetta foi menor, segundo relatos de integrantes do Palácio do Planalto divulgadas nesta terça-feira (14) pela Folha de S. Paulo.