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Por Yuri Eiras
Rio - O Ministério da Saúde autorizou, em novo protocolo, o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina em pacientes com sintomas leves de COVID-19. Antes, a pasta restringia a administração do medicamento apenas para os casos graves. O documento, que espantou cientistas e infectologistas, não é assinado por nenhum especialista, nem mesmo pelo general Eduardo Pazuello, que ocupa interinamente o cargo de ministro da Saúde. A liberação do uso do medicamento para combater a COVID-19 foi o estopim para as saídas dos dois últimos ministros, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.
O documento, intitulado "Orientações do Ministério da Saúde para tratamento medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da COVID-19", diz como receitar a cloroquina. Os pacientes que tiverem sintomas leves do vírus, por exemplo, devem tomar a cloroquina de 450mg duas vezes ao dia. O Ministério também divulgou o modelo de "Termo de Ciência e Consentimento", que deve ser assinado pelo paciente, autorizando o tratamento com cloroquina. "Cabe destacar que houve a participação de vários técnicos do Ministério", disse, sem citá-los, o secretário-executivo substituto Élcio Franco. "É um trabalho que vem sendo feito há um bom tempo. Tem uma larga fonte de referência e um trabalho que foi acordado de maneira consensual por todas as secretarias".
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Entidades e associações médicas se posicionaram contra a autorização do Ministério da Saúde. Tania Vergara, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, avaliou a atuação da pasta como "muito triste".
"Estamos atuando de uma forma muito triste. Tivemos mais de mil mortes registradas em um dia (entre segunda-feira e terça-feira) e as pessoas estão pensando que podem usar um remédio porque ele foi eficaz in vitro (testado apenas em laboratório). In vitro não é na pessoa. Em doenças reumáticas a cloroquina é eficaz porque foi bem estudada; em malária ela é eficaz porque foi bem estudada. Querer colocar cloroquina em uma doença que só tem cinco meses na humanidade é uma irresponsabilidade", afirmou Tania.
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"Não há nenhuma base científica para se prescrever a cloroquina, ainda mais em pacientes assintomáticos, como se quer fazer. O profissional de saúde está dando o sangue, está dando a própria saúde nessa pandemia. Duvido que essas pessoas (que elaboraram o documento) estejam na linha de frente", completou a presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia. 
A Academia Nacional de Medicina, a Faculdade de Medicina da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e a Fiocruz, junto com outras instituções, assinaram um documento mostrando preocupação com o uso da cloroquina. "Não há dados in vitro ou em modelos animais que sugiram que HCQ (hidroxicloroquina) possa ser eficaz. Nenhum estudo observacional publicado sugeriu claro benefício. Pelo contrário, vários indicaram potenciais malefícios", afirma o documento.
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Mandetta responde Bolsonaro: 'quem tem juízo, escute a Medicina'
Na terça-feira, em entrevista ao jornalista Magno Martins, o presidente Jair Bolsonaro disse duas vezes que "quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda toma Tubaína", em referência a um refrigerante de guaraná popular em São Paulo. "Você não é obrigado a tomar cloroquina. Mas quem quiser tomar, que tome. Dá oportunidade para o povo que se infectou, quem sabe, né. Pode ser que lá na frente digam que a cloroquina foi um placebo. Mas pode ser que daqui a dois anos...'Olha, realmente curava'", defendeu Bolsonaro. "Quem for de direita toma cloroquina. Quem for de esquerda toma...Tubaína".
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Em entrevista ao canal de TV por assinatura 'GloboNews', o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta rebateu a brincadeira do presidente. "Quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda toma Tubaína, quem tem juízo escute a Medicina".