Ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta - Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique MandettaMarcello Casal Jr/Agência Brasil
Por O Dia
Rio - O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta revelou, em entrevista à GloboNews nesta quarta-feira, que o governo federal desejava alterar a bula do remédio cloroquina, para incluir no documento sua recomendação para o tratamento da covid-19. Mandetta contou que o protocolo recomendando a droga é "distante do razoável" e ressaltou que a tentativa de alterar a bula aconteceria por um decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro.
"O presidente se assessorava ou se cercava de outros profissionais médicos. Eu me lembro de quando, no final de um dia de reunião de conselho ministerial, me pediram para entrar numa sala e estavam lá um médico anestesista e uma médica imunologista, que estavam com a redação de um provável ou futuro, ou alguma coisa do gênero, um decreto presidencial... E a ideia que eles tinham era de alterar a bula do medicamento na Anvisa, colocando na bula indicação para a covid-19", afirmou o ex-ministro.
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Mandetta disse que no nesta reunião havia ministros, integrantes da AGU e o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres. 
"O próprio presidente da Anvisa se assustou com aquele caminho, disse que não poderia concordar. Eu simplesmente disse que aquilo não era uma coisa séria e que eu não iria continuar naquilo dali, que o palco daquela discussão tem que ser no Conselho Federal de Medicina. Então, é lá que esse debate tem que se dar. Não adianta fazer um debate de uma pessoa que seja especialista na área que for, com um presidente da República que não é médico. A disparidade de armas, já que a frase está tão em voga, é muito difícil", revelou Mandetta, defendendo que decisões deste tipo precisam ser baseadas em dados científicos.
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O ex-ministro também comentou sobre à piada que o presidente Bolsonaro fez durante uma transmissão ao vivo na terça-feira. "Nesse tempo em que o pessoal de direita toma cloroquina e o pessoal de esquerda, Tubaína, quem tem juízo escuta a medicina", disse o ex-ministro.

Na opinião do ministro, as novas recomendações para uso do medicamento mesmo em casos leves parecem um "desvio" para justificar a retomada das atividades e o fim do isolamento social.