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Por ESTADÃO CONTEÚDO
Rio - Confrontado sobre estudo publicado nesta sexta-feira, que aponta aumento do risco de morte por arritmia cardíaca em até 45% nos infectados pelo novo coronavírus que utilizam cloroquina, o Ministério da Saúde afirmou ao Estadão que acompanha mais de 40 pesquisas clínicas envolvendo medicamentos para tratar a covid-19 e não quis comentar sobre os resultados apresentados.
Por ordem do presidente Jair Bolsonaro, a pasta passou a recomendar a prescrição da substância a pacientes desde os primeiros sinais da doença. Fontes do ministério dizem que, apesar de a pesquisa publicada pela revista científica Lancet ter sido realizado com 96 mil pacientes e indicar o risco do medicamento, ninguém acredita que a orientação do governo irá mudar.
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Em nota, o ministério se limitou a dizer que "com base em estudos existentes e parecer do Conselho Federal de Medicina (CFM), além de experiência da rede pública na utilização da cloroquina, cumpre o princípio da equidade ao dar oportunidade de todos os brasileiros, com seus médicos, buscarem a melhor opção de tratamento contra o coronavírus". Nenhuma palavra sobre o novo estudo, liderado pelo professor Mandeep Mehra, da Escola de Medicina de Harvard.

O estudo publicado na revista científica Lancet concluiu que o uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina, mesmo quando associados a outros antibióticos, aumenta o risco de morte por arritmia cardíaca em até 45% nos infectados pela covid-19. A cloroquina é defendida pelo governo Jair Bolsonaro como primeira opção de tratamento, inclusive para pacientes sem gravidade.

A Saúde já publica diariamente uma análise do compilado de estudos sobre possíveis tratamentos para a covid-19. Estes documentos têm repetido que a cloroquina, e nenhum outro medicamento, mostra resultados benéficos aos pacientes.

As análises do Ministério da Saúde foram ignoradas pelo governo ao divulgar nesta semana orientação do uso da cloroquina para todos os pacientes, como cobra o presidente Jair Bolsonaro. O documento do ministério tem forte poder político, mas não dita as regras do tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), como faria um protocolo de diretrizes terapêuticas. Apesar disso, autoridades temem que médicos e pacientes sejam estimulados ao uso da cloroquina, mesmo sem evidência de benefícios.

Uma autoridade do SUS, reservadamente, disse que o estudo publicado nesta sexta-feira, 21, na revista Lancet ainda não é o ideal, pois a avaliação foi feita sobre um banco de dados de pacientes, ou seja, tem impacto menor do que avaliações randomizadas e controladas. Ainda assim, traz fortes indícios para reforçar o risco do uso da cloroquina em larga escala, segundo a mesma fonte.

A pesquisa foi realizada com pacientes de 671 hospitais em seis continentes, internados entre 20 de dezembro de 2019 e 14 de abril deste ano. Das 96.032 pessoas analisadas, 14.888 foram tratadas com alguma variação ou combinação da cloroquina nas primeiras 48 horas de internação.

"Nós fomos incapazes de confirmar qualquer benefício da cloroquina ou da hidroxicloroquina em resultados de internação pela covid-19. Ambas as drogas foram associadas à diminuição de sobrevivência dos pacientes internados e a um aumento da frequência de arritmia ventricular quando usadas no tratamento da covid-19", conclui o estudo do professor de Harvard.